Seminário de Santa Rita: videos e relatório

No dia 20 de setembro de 2018, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) e parceiros realizaram, no auditório do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, o seminário Reparação da Escravidão e os Ancestrais de Santa Rita. Ao todo, 37 organizações se envolveram diretamente com o evento, que teve o patrocínio do Goethe Institut. O objetivo do seminário foi trazer ao público presente e virtual o debate sobre restos humanos e artefatos da vida de ancestrais escravizados encontrados em locais urbanisticamente afetados pelas obras da linha 3 VLT carioca, na região central do Rio de Janeiro. Abaixo, você pode assisti-lo na íntegra. 

O caso de Sata Rita é semelhante ao que ocorre em outras áreas da Pequena África, local de intensa manifestação da herança africana no País. Semelhante ao Cemitério dos Pretos Novos, no entorno do Cais do Valongo, hoje Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em frente à igreja de Santa Rita, se dava o sepultamento de africanos que, ao chegar no Brasil, não sobreviviam às durezas da travessia e aos sofrimentos impostos durante a captura em sua terra mãe.

Leia o Relatório Seminário Santa Rita

Jornal Quilombo 70 anos: atual como nunca

Em 9 de dezembro de 1948, o jornal Quilombo ganhava sua primeira edição, que se tornou um marco fundamental à história do jornalismo mundial. Seriam ao todo dez versões de um  periódico vibrante, integrante de uma imprensa negra que vinha ativa, sobretudo em São Paulo, de longa data. Órgão de comunicação do Teatro Experimental do Negro, entre 1948 e 1950, suas páginas abordavam a “vida, problemas e aspirações do negro” (slogan) no Brasil e no mundo.  Porta-voz dos afrodescendentes, funcionava como espaço de denúncias de discriminação e apoiava organizações afro-brasileiras em todo o Brasil, publicando entrevistas com seus líderes e divulgando suas atividades.

Uma das ações pioneiras do jornal foi abrir espaço à voz das mulheres. Na coluna “Fala a Mulher”,  Maria de Lourdes Valle do Nascimento teve presença destacada na luta das mulheres contra a discriminação e na luta das empregadas domésticas, direito conquistado recentemente, quando foi promulgada a Emenda Constitucional 72, mais conhecida como a PEC das Domésticas (PEC 66/2012). Com essa conquista, os trabalhadores domésticos adquiririam uma jornada de trabalho de 8h por dia, totalizando 44 horas semanais, passando a ter direito à horas extra. Essa e outras conquistas sociais dos trabalhadores no Brasil estão sob ameaça frente ao avanço das forças ultra-conservadoras no país, primeiro com o Golpe de 2016 e depois com a eleição do presidente coronel. Mas isso é outra conversa.

Em outra frente de luta, jornal Quilombo publicou reportagens para valorizar candidaturas negras ao pleito de 1950 na décima e derradeira edição, já em 1950. A representatividade do negro, mulher e índio nas assembleias legislativas, no Congresso e no Senado era nula. Atualmente quase nada mudou e as excessões só confirmam a regra. No pleito deste ano, 2018, dentre as 1.626 vagas para deputados distritais, estaduais, federais e senador, apenas 65 foram preenchidas por candidatos que se autodeclaram pretos nas eleições 2018. Eles são 4% dos eleitos neste ano, de acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No que diz respeito à distribuição do fundo partidário, informa nota publicada na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo, “quando o assunto é financiamento eleitoral, há uma clara e gritante diferença entre brancos e negros no Brasil. Quanto aos fundos especial e partidário, por exemplo – o partido recebe sua parte e decide quanto dela vai para a campanha de cada candidato. No Rio, cada postulante a deputado federal homem branco recebeu em média, dos dois fundos, R$ 113 mil. Cada mulher branca, R$ 107 mil; mulher negra, R$ 59 mil, e homem negro… R$ 9 mil”. Os números não erram.

Re-viver os 70 anos da primeira edição de jornal Quilombo é dar continuidade à sua luta contra o racismo e pela libertação do povo preto e preta no Brasil, ideal de seu fundador e diretor Abdias Nascimento. Que o jornalismo vibrante daqueles tempos continue nos inspirando e nos enchendo de força para seguir em frente se aquilombando.

Saravá!

Julio Menezes Silva é jornalista. 

Para conhecer um pouco mais do jornal Quilombo, leia as suas páginas na íntegra em: 

http://ipeafro.org.br/acervo-digital/leituras/ten-publicacoes/jornal-quilombo-no-01/

 

Boletim IPEAFRO | Preta poética 2019 adentro

O IPEAFRO tem enorme prazer em desenvolver um projeto em parceria com a Redes da Maré, que envolve retrospectiva da vida e obra de Abdias no Centro de Artes da Maré (CAM), no Rio de Janeiro. Num primeiro momento, o poeta Milsoul Santos, nosso artista em residência, participa do lançamento do livro de Marielle na Maré. 

O dia 14 de março é aniversário natalício de Abdias e de Carolina Maria de Jesus (eles fariam 105 anos), e também o marco de um ano do assassinato de Marielle Franco. A abertura da exposição vai fazer parte de uma programação dedicada ao peso simbólico desse dia: vida, morte, continuação, luta…

A temporada vai coincidir com a exposição de pinturas de Abdias no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o MAC. O IPEAFRO pensou, então, potencializar o diálogo entre as duas exposições, com intercâmbios de alunos e artistas entre Maré e Niterói. 

Essas atividades complementam um outro aspecto do projeto: a oficina de produção textual em escolas, centros culturais e comunitários, com nosso poeta Milsoul Santos. Veja as foto da mais recente oficina em nossa página noFacebook

Em 2020, intercâmbio internacional entre jovens da Maré e jovens dos EUA, em torno da construção de labirintos em parceria com a Sacred Sites Quest. O labirinto é um trilho único em curva fechada, uma ferramenta para transformação pessoal, psicológica e espiritual. Atribui-se aos labirintos a capacidade de enriquecer a atividade do lado cerebral responsável pelo raciocínio lógico. Ao preparar e construir o labirinto, os jovens criam e apresentam performances culturais (poesia, capoeira, música) e aprendem sobre os aspectos históricos, científicos e espirituais do labirinto, inclusive sua origem africana.

O conjunto de atividades previstas envolve atores nacionais e internacionais e para viabiliza-las é bem-vinda a participação da sociedade civil, iniciativa privada e esfera pública. Se você tem interesse em colaborar conosco, entre em contato com o IPEAFRO através do e-mail: redes@ipeafro.org.br ou pelo telefone +55 (21) 2509-2176. Não perca nenhuma novidade nos seguindo nas redes sociais e no site: http://ipeafro.org.br/

IPEAFRO participa de audiência pública sobre leis afirmativas

O IPEAFRO participou de audiência pública em 28/11/2018, no Anexo II, Plenário 03, às 14h, sobre o tema: “Comemoração aos 10 Anos da Lei de Cotas.” Expositores: Sérgio José Custódio, representante do Movimento dos Sem Universidades – MSU; Fernando Benício dos Santos, representante da Educação de Afrodescendentes – Educafro;  Mário Nicácio, Vice-Coordenador das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB; Jairo Jorge, jornalista e ex-Secretário Executivo do Ministério da Educação; José Aníbal, economista e político brasileiro. Requerimento nº 228/2018 – CLP, do sr. Pompeo de Mattos.