Seção MAN

A Seção MAN do acervo reúne documentos e obras artísticas do projeto Museu de Arte Negra. Este teve início nas décadas de 1950 e 1960, quando o Teatro Experimental do Negro (TEN) se engajava em um dos mais ativos movimentos mundiais de expressão cultural africana anticolonialista, o da Négritude dos poetas Aimé Césaire, Leon Gontran Damas e Leopold Sedar Senghor. A proposta da Négritude era idêntica àquela do Teatro Experimental do Negro no Brasil: a arte como ação e expressão política; a estética como fato político e arma ideológica na luta de um povo.

Desde seu início o Teatro Experimental do Negro já vinha trabalhando com alguns dos mais destacados artistas plásticos brasileiros. Santa Rosa, Enrico Bianco, Sörensen e Anísio Medeiros, por exemplo, criaram cenários para as suas peças. O fotógrafo José Medeiros colaborou com o TEN de diversas maneiras, inclusive como ator.

A partir de 1950, o TEN criou o projeto Museu de Arte Negra (MAN), com o objetivo de difundir o conhecimento e a discussão da origem da arte moderna no encontro entre a arte africana e a vanguarda da arte ocidental a partir do século XIX. Ao mesmo tempo, visava apoiar e promover a produção independente de artistas plásticos negros. Em 1955, o TEN realizou o Concurso de Artes Plásticas sobre o Tema do Cristo Negro, como parte do projeto MAN. Somente em 1968, conseguiu expor a coleção de obras artísticas que acumulara ao longo de 18 anos de atividades do projeto. O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, então sob a direção de Ricardo Cravo Albin, abrigou a exposição da coleção MAN como parte da comemoração dos oitenta anos de abolição da escravatura.

Durante o regime de exceção, Abdias Nascimento se viu obrigado a afastar-se do país. Nesse período, a coleção de obras artísticas do MAN cresceu sob a sua curadoria, já que ele passou a criar suas próprias pinturas e estas também passaram a compor a coleção do MAN. Além disso, Abdias Nascimento continuou, no exterior, a dialogar com artistas que doaram obras, entre eles LeRoi Johnson – que doou um Cristo Negro para a coleção. 

Sob a guarda do Ipeafro, a coleção vem recebendo tratamento técnico, iniciado em 2003, com apoio da Fundação Ford. Além de iniciar a organização do acervo documental e realizar a reprodução digital e o restauro de parte das obras artísticas, o Ipeafro apresentou a coleção na mini-mostrada PUC-Rio e na exposição Abdias Nascimento Memória Viva, ambas realizadas em 2004.

Com patrocínio da Petrobras e apoio da Fundação Kellogg, em 2008 e 2009 o Ipeafro procedeu à fotografia digital da coleção museológica, que inclui as obras do Concurso do Cristo Negro, as da coleção Museu de Arte Negra, e as pinturas de Abdias Nascimento. Agora partes dessas três coleções integram o Acervo Digital de imagens que estamos apresentando ao público aqui no site do Ipeafro.