Eva Imune ao Pecado Original. Este é o título que Abdias Nascimento atribuiu à primeira pintura de sua autoria, datada de 13 de setembro de 1968. Nós, do IPEAFRO, adoramos a ideia contida no nome e por isso repetimos:
Eva Imune ao Pecado Original
A técnica utilizada foi guache com veículo plástico sobre papel e suas dimensões originais são 50 x 70 cm. O verso da tela traz dedicatória ao amigo e artista Sebastião Januário: “ao Januário, inspirador e testemunho da minha aventura pictórica, com fraterno abraço do Abdias Nascimento”.
A técnica foi imposta pelas condições de vida: sem dinheiro para comprar tintas artísticas, eles aproveitavam um material de limpeza doméstica para misturar com guache, dando-lhe consistência.
O que Abdias não imaginava é que a peça chegaria a 2018, ano em que completa 50 anos, com um valor incalculável para a história da arte no Brasil, em especial dentro da temática afro-brasileira. Eva Imune ao Pecado Original é uma obra entre tantas obras e objetos artísticos, gravuras, livros e documentos que fazem parte do Acervo IPEAFRO, muitos destes ainda a serem “descobertos” por nossos pesquisadores. Desde 1981, o IPEAFRO trabalha para dar continuidade ao sonho do professor Abdias Nascimento, e busca preservar, divulgar e ativar a memória, cultura e história negras, assim contribuindo para o desenvolvimento do combate ao racismo.
A história desse quadro veio à tona graças à pesquisadora Abigail Lapin, doutoranda de Artes na Universidade de Nova Iorque. Explicamos. Somente no início da tarde de 4 de julho de 2018 descobrimos que Eva Imune ao Pecado Original é a primeira obra de Abdias. Graças ao movimento desta pesquisadora, interessada no Acervo IPEAFRO, identificamos este fato – que, quem sabe, pode dar novos rumos e instrumentos aos pesquisadores.
Por isso, reafirmamos a importância do apoio da iniciativa pública, privada e terceiro setor para fortalecer parcerias que viabilizem a organização, preservação, digitalização, armazenamento e disponibilização para o público deste acervo. O que mais está por descobrir? Esta é a pergunta que nos persegue diariamente. Por hora, vale comemorar esta pequena grande descoberta.
Obrigado, Lapin.