Porto Alegre, março de 2023 – Como parte da Agenda 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo, parte das atividades do Março Por Marielle e Anderson e em comemoração ao aniversário de nascimento do professor e ativista Abdias Nascimento, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), realiza, em Porto Alegre, no dia 14 de março, às 19h, na Casa de Cultura Mario Quintana, o evento “Abdias Vive!”, com lançamento de dois livros fundamentais para a memória do protagonismo negro na constituição deste país: o clássico do Teatro Negro Brasileiro, ‘Sortilégio’, de Abdias Nascimento, e ‘Abdias Nascimento, a Luta na Política’, de Elisa Larkin Nascimento, diretora do Ipeafro. O encontro reunirá intelectualidades brasileiras e vai contar com uma performance artística sobre as obras lançadas. A produção do evento, o roteiro e a direção artística são do premiado teatrólogo Ângelo Flávio Zuhalê, que também vai participar de uma roda de conversa sobre os livros com o diretor teatral e gestor cultural Jessé Oliveira e com Elisa Larkin Nascimento. Além disso, o evento terá uma sessão de autógrafos e confraternização com o público. A entrada é gratuita.
‘Sortilégio’, de Abdias Nascimento, e ‘Abdias Nascimento, a Luta na Política’, de Elisa Larkin Nascimento, cientista social e companheira de Abdias durante os últimos 38 anos de sua vida, são publicações da Editora Perspectiva, em parceria com o IPEAFRO. Os dois volumes abordam as dinâmicas entre arte e política na vida e obra de Abdias Nascimento. Escrito em 1951, lançado em 1959, revisto em 1978 e atualizado em 2022, ‘Sortilégio’ corrobora a atualidade do pensamento do autor, cuja criação passou do moderno ao contemporâneo. Já ‘Abdias Nascimento, a Luta na Política’ focaliza seus mandatos parlamentares e resgata a história do Memorial Zumbi, articulação nacional
em torno da recuperação das terras da República de Palmares, que desembocou na criação da Fundação Cultural Palmares. Para Abdias, a arte foi um meio para enfrentar a urgente questão política das condições de vida das populações negras no Brasil e no mundo. “Nosso Teatro seria um laboratório de experimentação cultural e artística, cujo trabalho, ação e produção explícita e claramente enfrentavam a supremacia cultural elitista-arianizante das classes dominantes”, escreveu Abdias Nascimento em ´O Quilombismo´ (2019; pág 92-93), uma de suas principais obras que retrata esse olhar do futuro em nosso presente.
Abdias Nascimento foi uma das lideranças negras precursoras na política nacional, tanto na Câmara e quanto no Senado. A obra ‘Abdias Nascimento, a Luta na Política’ traz a participação de quatro parlamentares que dão continuidade ao legado de Nascimento e registraram na publicação sua admiração por sua trajetória. Atualmente Deputada Federal e tendo sido a 59ª Governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva tem suas memórias registradas na obra, em entrevista feita por Elisa Larkin Nascimento. Outra precursora negra na política, tendo sido a primeira Deputada Estadual transgênero eleita em São Paulo, Érica Malunguinho apresenta o texto ‘Abdias Nascimento e nós: relato de heranças seculares’. Já a Deputada Federal Talíria Petrone escreveu o texto intitulado ‘Abdias griot da luta negra no Brasil, seu legado está vivo’. Por fim, o Senador da República Paulo Paim, do Rio Grande do Sul, participa da obra com a poesia ‘Abdias’, na qual relata sua relação de admiração por Abdias Nascimento: “Impossível descrever toda a admiração que tenho por essa figura exemplar e na qual muitas vezes procuro espelhar-me na busca para proporcionar mais justiça social para as classes menos favorecidas deste País; em especial afrodescendentes, aos quais o País tanto deve pelas vicissitudes às quais os submeteu, principalmente durante o Brasil-Colônia e Império, e pelas diferenças ainda hoje observadas na sociedade, que os impedem de integrar-se totalmente e ascender aos postos cujo direito não lhes pode ser negado”.
Em continuidade ao tour de lançamento dos livros iniciado em 2022, que passou pelo Terreiro Contemporâneo, reduto das artes negras no Rio de Janeiro, e pelo Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano de São Paulo, a programação de lançamento em Porto Alegre vai contar com uma performance artística sobre as obras lançadas.
O SIMBOLISMO DO 14 DE MARÇO
O quatorze de março une três personalidades negras que entraram para a história. Em 1914, nasceram Abdias Nascimento e a escritora Carolina Maria de Jesus. Neste mesmo dia, em 2018, foram assassinados a vereadora Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes. O Ipeafro realizava uma série de atividades no âmbito do Fórum Social Mundial, em Salvador (BA), em torno do lançamento, no aniversário do autor, da nova edição do livro ‘O Genocídio do Negro Brasileiro’ quando recebeu a notícia do assassinato da vereadora.
“Uma liderança com aquela dimensão, assassinada no dia do nascimento de dois ancestrais tão significativos – parecia que o universo nos chamava para pensar sobre vida, morte e continuidade da luta. Então, no ano posterior, em parceria com a Redes da Maré, Criola, FOPIR e 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo e, com o apoio do Itaú Cultural, realizamos a exposição “Abdias Nascimento, a Arte de um Guerreiro” no Centro de Artes da Maré, na favela da Nova Holanda, Complexo da Maré, território onde Marielle nasceu e foi criada. A exposição ficou aberta de 14 de
março a 14 de junho de 2019. Desde então, o Ipeafro vem intensificando as ações de memória e valorização do legado dessas três importantes personalidades”, relembra Elisa Larkin.
Desde 2009, o dia 14 de março é Dia do Ativista por lei estadual no Rio de Janeiro, em homenagem a Abdias Nascimento. Em 2018, o mesmo dia foi instituído como Dia Marielle Franco de Luta contra o Genocídio das Mulheres Negras. Em 2023, completam-se cinco anos sem respostas sobre quem mandou matar Marielle. Mesmo com trajetórias distintas, Abdias Nascimento, Carolina Maria de Jesus e Marielle Franco nos inspiram a refletir sobre a situação do país e das condições ainda impostas à população negra. Com suas obras e legados, que ultrapassam o corpo físico, essas personalidades denunciaram o racismo brasileiro ao mundo e dedicaram suas vidas a resistir contra ele, ao lado de toda a população negra e seus aliados.
SERVIÇO
Local: Casa de Cultura Mario Quintana – Teatro Carlos Carvalho
Endereço: Rua dos Andradas, 736 – Centro Histórico, Porto Alegre – RS, 90020-004
Data: 14 de março de 2023
Horário: 19h
Entrada gratuita
Programação:
19h – Recepção ao público
19h30 – Performance artística sobre as obras lançadas
20h – Mesa de apresentação dos livros, com Ângelo Flávio Zuhalê, Jessé Oliveira e Elisa Larkin Nascimento
21h – Sessão de autógrafos e confraternização
A livraria Taverna informa que o preço de venda dos livros será o preço de capa:
Abdias Nascimento – a Luta na Política, R$ 59,90
Sortilégio – Mistério Negro, R$ 44,90
Pagamento: todos as bandeiras de cartões de crédito e débito, pix e dinheiro. Parcelamento nas compras acima de R$ 100 reais.
SINOPSES DOS LIVROS
1. SORTILÉGIO
Incrível a atualidade desse clássico do teatro negro brasileiro. A cada vez que nos deparamos com um texto de Abdias Nascimento, salta aos olhos o frescor, a pertinência e a contundência de sua prosa ou poesia, de seus diálogos, de sua força, de sua capacidade como orador. Sortilégio escancara a brutalidade do racismo no Brasil, denuncia a farsa da democracia racial e ainda ilumina e se abre para uma poderosa cultura brasileira de matriz africana. Esta edição
marca o estabelecimento do texto definitivo da peça, musicado por Nei Lopes, e traz análise de Elisa Larkin Nascimento sobre as encruzilhadas e os diálogos que a obra provoca entre o masculino e feminino, o moderno e o contemporâneo. Em texto do diretor, produtor e gestor cultural Jessé Oliveira, o livro traz à cena os realizadores atuais de teatro negro, complementado por entrevistas com Léa Garcia, atriz protagonista da montagem de estreia em 1957, e Ângelo Flávio Zuhalê, diretor da montagem de 2014, centenário de Abdias Nascimento.
FICHA TÉCNICA
Autor: Abdias Nascimento
Apresentação e Prefácio: Elisa Larkin Nascimento
Participação: Léa Garcia, Jessé Oliveira e Ângelo Flávio Zuhalê
Assunto: Teatro / Dramaturgia
Coleção: Paralelos
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 21 cm
160 páginas
ISBN 9786555051087
E-book: 9786555051094
Lançamento: 27/05/2022
2. ABDIAS NASCIMENTO, A LUTA NA POLÍTICA
Abdias Nascimento foi uma das mais importantes e brilhantes lideranças do Brasil, dedicando-se intensamente ao enfrentamento do racismo e à promoção do legado cultural afro-brasileiro. Escritor, artista plástico, dramaturgo, deixou um legado cultural incontornável através do TEN, Teatro Experimental do Negro, das pinturas que realçam sua ligação com a cultura africana e dos livros que denunciam o racismo e a violência das relações étnico raciais no Brasil. Na década de 1980, ele se dedicou à política institucional do Congresso Nacional, onde acreditava ser necessário pôr em pauta as questões raciais e implementar políticas públicas de reparação. Muito do debate atual e das políticas públicas inauguradas no país, nós devemos à sua atuação parlamentar, que é o objeto deste livro.
FICHA TÉCNICA
Autora: Elisa Larkin Nascimento
Coleção: Debates
Assunto: Política
Formato: Brochura
Dimensões: 11,5 x 20,5 cm
240 páginas
ISBN 9786555050806
E-book 9786555050813
Preço E-book: R$ 34,90
Lançamento: 29/11/2021
PARTICIPANTES DA RODA DE CONVERSA
Sobre Elisa Larkin Nascimento
É mestre em Direito e em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Nova York (EUA) e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Foi parceira de Abdias Nascimento. Juntos fundaram o IPEAFRO, em 1981. Elisa conceituou o fórum Educação Afirmativa Sankofa e escreveu diversos livros, entre eles O Sortilégio da Cor; os quatro volumes da coleção Sankofa; Adinkra, Sabedoria em Símbolos Africanos e Abdias Nascimento, A Luta na Política. É curadora do Museu de Arte Negra virtual do IPEAFRO e participa da curadoria da exposição Abdias Nascimento e Museu de Arte Negra, realizada em parceria com o Inhotim (2021-24).
Sobre Ângelo Flávio Zuhalê
É ator, diretor, produtor, iluminador, dramaturgo, roteirista, preparador de elenco e repórter. Bacharel em Artes Cênicas com habilitação em Direção Teatral formado pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (2006). Artista premiado e polivalente, ele fundou a primeira companhia de teatro negro em território acadêmico do Brasil, a Cia Teatral Abdias Nascimento na UFBA (2002). Paralelo à sua carreira profissional, Ângelo Flávio é um ativista que luta em defesa das causas sociais, temas sempre recorrentes em suas premiadas montagens. É pesquisador do teatro negro, com palestras em diversas universidades do país e um dos entrevistados do livro ‘Sortilégio’, ao lado de Léa Garcia e Jessé Oliveira.
Sobre Jessé Oliveira
É gestor cultural, autor e diretor de teatro, e mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fundador do grupo Caixa-Preta, de Porto Alegre, ele dirigiu mais de 40 espetáculos, apresentados em todo o Brasil e na América Latina. Dirigiu Das Pferd des Heiligen na Alemanha, com texto de Viviane Juguero e argumento do diretor. Recebeu o Prêmio Florêncio de Melhor Espetáculo Estrangeiro no Uruguai, por ‘Hamlet Sincrético’. Tem livros publicados nos campos do teatro de rua e teatro negro. Dirigiu a Casa de Cultura Mario Quintana, e atualmente é Coordenador de Artes Cênicas de Porto Alegre.
Sobre o IPEAFRO
O IPEAFRO é uma instituição sem fins lucrativos que se dedica ao trabalho de preservação e difusão do acervo museológico e documental de Abdias Nascimento e das organizações que ele criou. Esse trabalho dá suporte à sua missão mais ampla de desenvolver ações de caráter educativo centradas no conhecimento e na valorização da história e cultura africanas e afro-brasileiras.
Sobre a Casa de Cultura Mario Quintana
A Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) é uma instituição vinculada à Secretaria do Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac). Inaugurada em 1990, hoje é considerada um dos maiores centros culturais do Brasil, promovendo programações diversas em diferentes segmentos artísticos, como cinema, artes visuais, artes cênicas, música e dança. A Casa de Cultura Mario Quintana também sedia instituições culturais como o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), a Cinemateca Paulo Amorim, o Centro de Desenvolvimento e Expressão (CDE), o Instituto Estadual de Cinema (IECINE), Instituto estadual de Artes Cênicas (IEACEN), Instituto Estadual de Música (IEM) e Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi).
Sobre 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo
A campanha “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo!” é uma série de eventos organizados de forma coletiva pela passagem do dia 21 de março – Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data faz alusão à manifestação pacífica feita pelas populações negras da África do Sul contra a Lei do Passe, que ditava por onde pessoas negras poderiam circular pela cidade, policiais do Regime do Apartheid reagiram de forma agressiva matando 69 manifestantes e ferindo outros 186. Esse ataque, em 21 de março de 1960, ficou conhecido como o “Massacre de Sharpeville”.
Sobre o Março Por Marielle e Anderson
Neste 14 de março completam 5 anos da morte de Marielle e Anderson, um crime que assustou e causou comoção e revolta em todo o país. Em diversas cidades do mundo, o caso tem gerado grandes manifestações por justiça e pelo avanço das investigações: “Quem mandou matar Marielle e por quê?”. Até hoje a pergunta permanece sem respostas. Funcionando desde 2019, o Instituto foi criado pela família de Marielle para “inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas a seguirem movendo as estruturas da sociedade por um mundo mais justo e igualitário”. Em todo o Brasil e em várias partes fora do país são esperados atos, performances, rodas de conversa,
intervenções e outras agendas por justiça a Marielle e Anderson.
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