Terceiro Ato e a Justiça

 

‘Abdias Nascimento, 1970’ no terceiro ato da exposição “Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra”. 2023. Foto: Maria Eduarda Nascimento.

Por Maria Eduarda Nascimento*

Da minha mãe de santo escutei certa vez que não devemos pedir justiça a Xangô, mas sim por misericórdia. Isso porque, a visão de justiça africana nada tem a ver com os dogmas eurocêntricos e suas leis, e eu, no auge da minha ignorância, posso pedir por justiça estando equivocada, e não por isso ele a deixará de fazer. 

Esse estudo de Abdias Nascimento, que faz parte de um dos núcleos do “Terceiro Ato: Sortilégio”, revela uma faceta muito pessoal a respeito do que ele pensava como futuro ideal de uma pátria martirizada, vítima do que a escravização instaurou aqui. O Oxé de Xangô e os rabiscos da canetinha foram capazes de reler uma bandeira de bases colonialistas em uma proposição africana de futuro com justiça aos negros que construiram um país em cima dos escombros da desgraça e da exploração. E que até hoje ainda assim o carregam. 

Teria então a branquitude coragem de pedir justiça a Xangô? Se é do suprimento e esquecimento de nossa história que somos mantidos em condições de controle e apagamento, como a consciência da nossa exploração os beneficia? O melhor mesmo seria a misericórdia. O que se sabe é que dos estudos de Abdias sobre a releitura da bandeira nacional foi concebido “Oke Oxossi (1970)”, que coloca o caçador africano no centro, e nos traz a esperança de um futuro de fartura e sobrevivência. 

E como o negro é lindo! Por que durante minha vida não me ensinaram isso? Para onde se olhava dentro da Galeria Mata, se via beleza. “Oxum em Êxtase (1975)” costuma ser o quadro que mais atrai olhares, e lá estava ela, disposta no centro da parede ao lado de outros orixás. A Iyabá foi tão fielmente retratada na pintura que concentrou toda a atenção e fotografias do local. Não poderia ser diferente. Senhora dos rios e cachoeiras, riqueza, e vaidade. A pintura de Abdias traduz autoestima e afirmação da própria “negrura” – como ele mesmo escreveu. Como ver beleza no que se aprendeu a odiar? Como amar a um orixá a quem me apresentaram como diabo? A autoestima é o resgate da integridade do povo preto, da noção de humanidade que nos foi negada antes mesmo da colonização. 

É possível visualizar de forma concreta o que Abdias Nascimento idealizou para o Museu de Arte Negra na década de 50, como a transmissão da criatividade afro-brasileira e da estética negra. Atento para a importância da memória porque é preciso difundir no imaginário social que Abdias enquanto vivo se dedicou a valorização do negro como sujeito, como central e produtor de arte. Destaco também a decisão essencial de inserir documentos históricos, fotos e livros para compor a narrativa da exposição, que não só é inédita na história do Inhotim, mas também possibilita espaço para acessar sentimentos. 

A admiração especial de Abdias Nascimento ao orixá Exu é um deles. Representado em maior número em quadros, estudos e simbologias, Exú está por todo lado. Vou além, enxergo o axé do orixá incorporado em seu trabalho. O que foi Abdias se não um comunicador entre mundos? Falou ao negro, ao africano, ao branco e ao originário. Falou ao artista, à empregada doméstica; falou ao patrão, ao rico e ao pobre. Falou ao jovem, ao quilombola, ao griot. 

Falou comigo.

Maria Eduarda Nascimento em visita a exposição no Inhotim. Crédito: Julio Ricardo  Menezes Silva 

O Cais do Valongo é memória

Por Maria Eduarda Nascimento

“Tudo o que nós temos guardado a vida inteira.” Foi assim que Conceição Evaristo definiu a fala de Mãe Edelzuita de Oxaguiã, que aconteceu momentos antes na cerimônia. Eu não teria a ousadia de acrescentar nem polir nenhuma palavra, já que assim também entendi o que a Iyá disse. Alguns minutos após o início da cerimônia, Mãe Edelzuita, convidada ao evento, solicitou o direito de falar ao microfone no palco. E assim foi feito. As falas da mãe de santo, mesmo que numa pequena “quebra de protocolo” – como foram chamadas, elucidaram, para quem ainda não tinha entendido, o propósito daquela cerimônia. E o que nós, pessoas negras, em especial as mulheres negras, temos guardado a vida inteira: o cansaço de uma vida sem reconhecimento.

A Iyá demarcou seu protagonismo responsável pela viabilização da região do Cais do Valongo, porto de chegada dos nossos ancestrais sequestrados de África e escravizados por aqui. Ancestrais esses que receberam ebós e um Amalá para Xangô pelas mãos da própria. Reivindicou a importância das Iyalorixás na sociedade, já que é pelas mãos dessas mais velhas que “a mulher que não pode parir, toma um ebó e pari”, e “quem está no leito do hospital, se levanta”. Elas são responsáveis pela sobrevivência e força do povo preto, sempre foram, antes de qualquer medicina patenteada. Mãe Edelzuita termina seu discurso afirmando que negro, foi o branco quem inventou. Nós somos pretos.

Gosto de substituir a ideia do antirracismo pela projeção de vida futura do negro. Há, dentro de uma sociedade munida de necropolíticas racistas, algo mais subversivo do que imaginar um povo preto vivo no futuro? – Não só vivendo, mas vivendo dignamente. E só se pensa na construção política futura, visitando e conhecendo o passado. Isso é sankofa, e é também a filosofia dominante dentro das comunidades negras. A valorização do ancestral, a perpetuação oral do saber, a organização hierárquica… Pilares do candomblé e da capoeira, por exemplo. Isso é projetar vida.

A restituição de um patrimônio cultural, jogado ao sucateamento no anterior governo de extrema direita, e a instauração de um novo comitê de posse, que contempla coletivos e organizações negras comprometidas com a causa, fala do nosso passado e denuncia as mazelas coloniais aqui instauradas. Eu pouco sabia sobre o Cais do Valongo, e ainda sei pouco visto o necessário, mas sei que o racismo brasileiro atua no suprimento da memória ancestral e no apagamento da nossa história. O Cais do Valongo é memória, é movimento de resistência. Ter a presença de Ministras, do novíssimo Ministério da Igualdade Racial e do restaurado Ministério da Cultura, Anielle Franco e Margareth Menezes respectivamente, aponta para nortes de esperança com um Governo Federal que nos contempla. Em geral, a principal sensação é a de respiro.

Patrimônio da Humanidade, Cais do Valongo tem Comitê Gestor recriado

O bem cultural Sítio Arqueológico Cais do Valongo, declarado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),  extinto pelo Governo Federal em 2019, foi recriado e e tem um novo comitê gestor. Composto por 15 instituições da sociedade civil e 16 entidades governamentais das esferas federal, estadual e municipal, entre elas, o Ipeafro, fundado por Abdias Nascimento, foi nomeado novamente, assim como na primeira posse, em 2018. 

A festa da posse foi no Museu de Arte do Rio e contou com a presença de personalidades do movimento negro, e de representantes de instituições da sociedade civil e governamentais, além de membros do Comitê. As Ministras de Estado Anielle Franco (Igualdade Racial) e Margareth Menezes (Cultura) estiveram presentes e reiteraram seu compromisso com a pauta racial e a preservação da memória e do patrimônio brasileiros. Foi das mãos dessas mulheres que representam esperança no presente que Clícea Maria Miranda e Elisa Larkin Nascimento, do Ipeafro, receberam o certificado de posse de membro titular.

Anielle Franco (Igualdade Racial), Clicea Maria Miranda e Elisa Larkin Nascimento (Ipeafro), e Margareth Menezes (Cultura). Foto: Maria Eduarda Nascimento

Registramos ainda a participação da deputada Benedita da Silva e também da autora Conceição Evaristo, da Ialorixá Edelzuita de Oxaguiã, do presidente da Fundação Palmares João Jorge Rodrigues, do Secretário de Cultura Marcelo Calero, da representante do Comitê Gracy Mary, do presidente do O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Leandro Grass e da diretora do Arquivo Nacional Ana Flávia Magalhães, sendo a primeira mulher negra a assumir a Direção Geral deste órgão em 187 anos. A artista plástica Dayse Gomes e a estudante de jornalismo Maria Eduarda Nascimento, que também atuam no Ipeafro, estiveram presentes. 

 

Ipeafro apoio filme “Encruzilhada – entre terreiro e quilombo em Jacarepaguá”

Nesta quinta, 30/3, às 13h, tem cine debate com o diretor do filme “Encruzilhada: entre terreiro e quilombo em Jacarepaguá”, Paulo Mileno, no CIEP 321 Dr. Ulysses Guimarães, em Curicica, Rio de. O filme traz depoimentos de Léa Garcia, Luiz Carlos Gá, Muniz Sodré, Elisa Larkin Nascimento, Abdias Nascimento Filho, Jayro Pereira de Jesus, Júlio Dória, Mária Lúcia dos Santos Mesquita e Paulo Mileno. O Ipeafro é apoiador cultural do filme. 

Campanha dos 21 dais de ativismo marca a data do dia 14 de março

A Campanha dos 21 dais de ativismo marca a data do dia 14 de março como momento importante de lembrar que há 5 anos estamos sem respostas de quem mandou matar Marielle e Anderson. Ao sair de uma atividade dos 21 dias, Anderson e Marielle foram emboscados e brutalmente assassinados.

Marielle era uma mulher preta, bissexual, cria da favela da Maré, lésbica e tinha conseguido o quinto lugar no número de votos na eleição para vereadora na cidade do Rio de Janeiro. Ela se mobilizou intensamente para eleger mais mulheres e incentivar jovens mulheres negras, tema de sua última atividade. Mais do que o grande papel que exercia na política, a cria da Maré, também mostrava que iria mais longe.

Dia 14 de março também tem a marca do nascimento de outros dois ícones da luta antirracista: a escritora Carolina Maria de Jesus e o político, escritor, pintor e ator Abdias Nascimento. Carolina de Jesus escrevia sobre seu cotidiano de mulher negra e pobre em todos os lugares que podia; e também questionava políticos que nada faziam pela população pobre e negra.

Abdias fez de seu cotidiano palco para a luta antirracista em várias áreas, sempre tentando transformar em política pública e em formato das muitas formas de artes que realizava.
Para eles não bastava ser contra o racismo, eram também antirracistas!

#21diasdeativismocontraoracismo #mariellevive #escritoramariacarolinadejesus #abdiasnascimento #movimentonegrobrasileiro

“Terceiro Ato: Sortilégio”: exposição no Inhotim aborda a trajetória de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra

Em curadoria conjunta com o Ipeafro, a mostra apresenta mais de 180 obras, entre documentos, livros, trabalhos de Abdias e de artistas como Mestre Didi, Rubem Valentim, Melvin Edwards, Regina Vater, Emanoel Araujo, Hélio Oiticica e Anna Bella Geiger

Brumadinho, MG – Em curadoria conjunta com o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro- Brasileiros (Ipeafro), o Inhotim sedia um museu dentro de seu espaço e traz, desde 2021, a iniciativa idealizada por Abdias Nascimento (1914- 2011) no começo da década de 1950: o Museu de Arte Negra.

Como parte desse projeto, a exposição “Terceiro Ato: Sortilégio”, que inclui em seu título o nome da primeira peça teatral escrita por Abdias Nascimento – Sortilégio (Mistério Negro) – em 1951, e marca o princípio de sua produção artística ligada às tradições afro-diaspóricas, será inaugurada no dia 18 de março de 2023, sábado, na Galeria Mata. Terceiro Ato: Sortilégio aborda o período de exílio do artista, entre 1968 e 1981, evidenciando a difusão da arte negra brasileira no exterior.

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Como dramaturgo e depois pintor, Abdias Nascimento desempenhou um papel político e social que estabeleceu uma mudança de paradigma para a reconstituição de uma ordem epistêmica africana, usando linguagem e símbolos das tradições afro-diaspóricas. Neste sentido, Terceiro Ato: Sortilégio se organiza em cinco núcleos temáticos (Símbolos rituais contemporâneos; Nova York: início do exílio; Professor universitário; Artistas afro-brasileiros; e Orixás: concepção da vida e filosofia do universo) concentrados na maciça produção de Abdias como pintor, que se dá, sobretudo, fora do Brasil. “Nascimento continuou seu interesse pela ancestralidade africana como base para sua
produção artística. Assim, essa comunicação constante com a epistemologia das religiões afro-diaspóricas está no cerne de seu pensamento enquanto intelectual e artista”, pontua Deri Andrade, curador assistente do Inhotim.

Parte das obras expostas na mostra é de artistas brasileiros(as) que marcavam presença na cena artística estrangeira, principalmente nos EUA, em Nova York, no mesmo período em que Abdias Nascimento esteve no país, interagindo com a sua paisagem e com o seu entorno, e mostrando um reconhecimento dos territórios por onde passaram. Os núcleos da exposição buscam reafirmar a ideia do Museu de Arte Negra como um museu coletivo, feito por pessoas que cruzaram a vida de Abdias. A sala de vídeo exibe ainda o documentário Exu Rei – Abdias Nascimento (2017), de Bárbara Vento, que salienta as características de grande expressividade e comunicação de Abdias Nascimento, bem como seu dinamismo e ativismo, dialogando com o arquétipo de Exu enquanto figura de transformação e a sua influência na cultura negra e na arte brasileira.

Constituída por peças de empréstimos – a grande maioria pelo Ipeafro – e de aquisições recentes do Inhotim, Terceiro Ato: Sortilégio traz ao público mais de 180 obras, com trabalhos de Abdias Nascimento e de outros artistas como Mestre Didi, Rubem Valentim, Melvin Edwards, Regina Vater, Manuel Messias, Emanoel Araujo, Hélio Oiticica, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Iara Rosa, Romare Bearden, LeRoy Clarke, além de livros e documentos de pesquisa de Abdias sobre o Candomblé e os Orixás.

A exposição apresenta um núcleo dedicado a Exu, Orixá presente em um grande número obras de Abdias. Exu é o Orixá da comunicação, guardião dos caminhos. “Abdias pensa os Orixás, os símbolos ritualísticos e a linguagem ancestral como ponto de conexão pan-africanista. Ele resgata em seu trabalho o sentido do Candomblé como uma concepção de vida e filosofia do universo”, explica Douglas de Freitas, curador do Inhotim.

Em maio de 1968, nas comemorações pelos 80 anos da abolição da escravidão, o Teatro Experimental do Negro realizou a exposição inaugural da coleção Museu de Arte Negra, no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Ao longo daquele ano, Abdias Nascimento teve forte interlocução com artistas nacionais e internacionais, e o projeto Museu de Arte Negra ganhou destaque na mídia, em especial no Correio da Manhã, veículo que fazia oposição ao Regime Militar. No final do mesmo ano, Abdias Nascimento recebe uma bolsa de intercâmbio cultural nos Estados Unidos. Com a promulgação do Ato Institucional no 5, em 13 de dezembro de 1968, o Congresso é fechado e inicia-se a fase da mais violenta repressão política da ditadura militar no Brasil. Abdias já era alvo de vários inquéritos policiais militares, antes de sair do país.

Sob o risco de ser perseguido, torturado ou assassinado pelo governo brasileiro de então, o pintor se vê impedido de retornar ao seu país de origem. O fato limita as atividades do Museu de Arte Negra em solo brasileiro, mas não as do seu curador, que continua produzindo e coletando obras durante o seu exílio. É neste período que Abdias intensifica sua atividade como pintor, em cidades como Nova York e Buffalo, dialogando com as paisagens e com os
círculos artísticos desses lugares – que podem ser vistos em sua obra como representações desses espaços e também como homenagens a outras figuras de seu convívio, como Rubens Gerchman. A presença da religiosidade de matriz africana em seu trabalho também se consolida.

“É no exílio que Abdias Nascimento passa a ser internacionalmente reconhecido não só como pintor, mas principalmente como uma das personalidades brasileiras mais preparadas para o enfrentamento ao racismo em suas dimensões estética e estrutural. A experiência acumulada desde a sua participação na Frente Negra Brasileira, nos anos 1930, passando pelo Teatro Experimental do Negro, jornal Quilombo e pela criação do projeto Museu de Arte Negra, contribui para a consolidação de uma biografia que o levou, já próximo do final de sua vida, em 2009, a ser indicado oficialmente ao prêmio Nobel da Paz pelo conjunto da obra”, afirma Julio Ricardo Menezes Silva, pesquisador do Ipeafro e coordenador do Museu de Arte Negra virtual.

Terceiro Ato: Sortilégio é o penúltimo dos quatro atos da proposta, representados anteriormente pelo Primeiro Ato: Abdias Nascimento, Tunga e o Museu de Arte Negra e pelo Segundo Ato: Dramas para negros e prólogo para brancos, partindo do legado multidisciplinar de Abdias Nascimento – poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário, pan-africanista e parlamentar com uma longa trajetória trilhada no ativismo e na
luta contra o racismo.

Sobre o Museu de Arte Negra
Desde os anos 1940, Abdias Nascimento e seus companheiros do Teatro Experimental do Negro (TEN) trabalhavam com a proposta de valorização social do negro e da cultura afro- brasileira por meio da arte e da educação. O TEN buscava delinear um novo estilo estético e dramatúrgico, e assim lançava as bases para a fundação do Museu de Arte Negra. Foi o TEN que, em 1950, no Rio de Janeiro, organizou o 1o Congresso do Negro Brasileiro, em que se discutiu a “estética da negritude” e modos de visibilização e valorização da produção de artistas negros e daqueles que lidavam com a representação da cultura negra em seus trabalhos. Nesse sentido, a plenária do Congresso aprovou uma resolução sobre a necessidade de um museu de arte negra. O TEN assumiu o projeto, e assim nasceu o Museu
de Arte Negra.

A coleção Museu de Arte Negra ganhou forma sendo composta por pinturas, desenhos, gravuras, fotografias, esculturas, dentre outras, numa pluralidade de suportes e técnicas, doadas por artistas em interlocução com os ativistas, intelectuais e artistas do TEN. Em 1955, o TEN promoveu um concurso de artes plásticas e uma exposição sobre o tema do Cristo Negro. A exposição inaugural da coleção Museu de Arte Negra abriu em 6 de maio de 1968,
no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Nascimento aproveitou, para isso, a comemoração dos 80 anos da abolição da escravatura, ocorrida em 1888. Entretanto, ele e seu time tinham plena consciência de que as estruturas que sustentavam o regime escravista de violação de direitos e da dignidade humana se mantinham sob a forma do racismo. Sem medidas reparatórias como acesso ao emprego, à cultura e à educação, a abolição resultou
na exclusão social, econômica, política e cultural da população negra recém-libertada. Terceiro Ato: Sortilégio conta com o patrocínio do Itaú Unibanco e da Petrobras, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Ministério da Cultura e Governo Federal, União e Reconstrução. Pela Petrobras, o projeto foi contemplado na Chamada Petrobras Cultural Múltiplas Expressões 2022.

Terceiro Ato: Sortilégio
Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra
Abertura: 18 de março de 2023, sábado, a partir das 9h30
Data: 18 de março a 06 de agosto de 2023
Local: Galeria Mata, Instituto Inhotim

O peso simbólico do 14 de março | Carolina, Abdias e Marielle: Vida, Ancestralidade e Continuação

Imagem criada por Luiz Carlos Gá em 2019, por ocasião do evento “Carolina, Abdias e Marielle: Vida, Ancestralidade e Continuação”, realizado em 14 de março daquele ano no Centro de Artes da Maré, na favela Nova Holanda, no Rio. Gá fez sua passagem no último dia 26 de fevereiro e do Orum nos inspira a seguir adiante. Valeu, Gá!

Hoje, 14 de março de 2023, é dia de reverenciar três ancestrais. Neste dia nasceram em 1914 Carolina Maria de Jesus, escritora, e Abdias Nascimento, professor, artista plástico e político brasileiro oficialmente indicado ao Nobel da Paz. Morreram a vereadora Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes, em 2018, em crime ainda não desvendado. Quem mandou matar Marielle?

Por lei estadual no Rio de Janeiro, o dia 14 de março é Dia do Ativista pelo aniversário de Abdias, e Dia Marielle Franco de Luta contra o Genocídio das Mulheres Negras. Essas personalidades dedicaram a vida a resistir ao racismo brasileiro, o denunciaram ao mundo e deixaram um legado para as futuras gerações levarem adiante esta luta. 

Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977)

Nasceu em Sacramento (MG) em 14 de março de 1914. Estabeleceu-se na favela do Canindé, em São Paulo. Teve três filhos. Cuidou deles sozinha. A fome fazia parte do cotidiano de sua família. Catando papéis tirava o mínimo para o sustento. Dos papéis também vinham os pedaços de folha onde escrevia suas memórias, textos, poesias e sonhos. Um dia, o jornalista Audálio Dantas encontrou-se com Carolina e publicou sua história no jornal Folha de S. Paulo. Dois anos mais tarde, em 1960, seus textos foram reunidos em Quarto do Despejo, livro que virou best-seller. Vendeu mais de quatro milhões de livros no exterior, 3 milhões no Brasil. Morreu em 1977.

Marielle Franco (1979 – 2018)

Marielle Franco foi uma política brasileira. Formada em Sociologia (pela PUC-Rio) e com Mestrado em Administração Pública (pela UFF). Eleita Vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) no ano de 2016, com 46.502 votos. Ao longo do período em que atuou como vereadora apresentou 16 projetos de lei, especialmente pensados em políticas públicas para negros, mulheres e LGBTI. Mãe, mulher negra de favela, mãe, lésbica. Foi assassinada ao lado de seu motorista Anderson Gomes em um 14 de março, em crime ainda não desvendado. 

Abdias Nascimento (1914 – 2011)

Poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário, pan-africanista e parlamentar brasileiro. Com uma longa trajetória trilhada no ativismo e na luta contra o racismo, foi indicado ao Nobel da Paz. Nasceu em Franca (SP) em 1914 e morreu no Rio em 2011, aos 97 anos. Funtou o Teatro Experimental do Negro, o jornal Quilombo e o Museu de Arte Negra. Foi perseguido politicamente e preso diversas vezes em sua vida por resistir ao racismo. Viveu 13 anos em exílio durante a ditadura militar no Brasil. Voltou ao País e foi o primeiro parlamentar negro da Câmara dos Deputados. Foi Senador da |República. Autor de vários livros, fundou o Ipeafro. 

 

Ipeafro participa do lançamento do projeto Pedagogias das Africanidades

Na manhã deste 14 de março de 2023, Elisa Larkin Nascimento, co-fundadora do Ipeafro e atual diretora participou do lançamento do projeto Pedagogias das Africanidades, no bairro de Restinga Velha, em Porto Alegre. Na ocasião, Larkin Nascimento compartilhou histórias sobre Abdias Nascimento que, se vivo fosse, completaria 109 anos hoje, e fez uma doação de livros para o Ponto de Cultura Africanidades, organização que realizou o evento. 

 

Entrevista de Elisa Larkin Nascimento e Keyna Eleison para a Rádio BBC

Quem entende inglês, não perca essa entrevista comigo e com a primeira mulher negra diretora artística do MAM-Rio, Keyna Eleison, na rádio BBC.  O programa faz um panorama da situação política brasileira e entrevista Keyna Eleison, co-diretora artística do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Elisa Larkin Nascimento, ativista e colaboradora de Abdias Nascimento, que trata da exposição de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra no Inhotim. 

Ouça em: https://www.bbc.co.uk/programmes/w3ct37sl

Coluna Ipeafro no Pensar Africanamente saúda a nossa ancestralidade

Coluna IPEAFRO está de volta no canal Pensar Africanamente. Em pauta: um diálogo sobre o Nosso Sagrado, aquele onde a Tradição dos Orixás, praticada nas casas religiosas de matriz africana, exerce um papel para além do campo religioso atuando junto à sociedade civil na defesa da cidadania, das minorias, na luta antirracista e contra todas as formas de desigualdades. È dia 07 de março, às 19h30, ao vivo pelo canal YouTube ou pelo Facebook Pensar Africanamente. Link direto: https://www.youtube.com/watch?v=w1dvGZbAxqc.  Sorteio de dois exemplares do livro O Tradição dos Orixás, org. de Edlaine de Campos Gomes e Luis Cláudio de Oliveira. Ipeafro / Mar de Ideias, 2019.

Participantes:

Iya Sandrali Bueno
Iyalorixá, Psicóloga. Especialista em Criminologia. Servidora Publica. Ativista em Direitos Humanos. Antirracista. Feminista. Secretaria executiva do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul. Coordenadora Estadual do GT Mulheres de Axé da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (RENAFRO), Nucleo RS. Conselheira do Conselho Municipal do Povo de Terreiro de Pelotas. Coordenadora de Formação do Movimento Negro Unificado/ RS. Integra o Coletivo Político NegrAtividade e idealizadora do Coletivo Antirracista o Melhor de Cada Uma. Autora do livro Pelo direito de ser quem sou: um ser coletivo, Porto Alegre, RS: Zouk, 2022. 

Adaílton Moreira
Aos 56 anos é articulador da campanha #LutoNaLuta, contra o racismo e os crimes de racismo religioso / intolerância religiosa. Babá Adailton Moreira é Coordenador Nacional de Homens de Axé da RENAFRO-RJ. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPED) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), tendo defendido em 2018 a dissertação “Infância nas Redes Educativas de Iemanjá no Ilê Omiojuarô”.  Recebeu a medalha de Mérito Pedro Ernesto da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, das mãos da vereadora Marielle Franco, em novembro de 2017. Em abril de 2018 recebeu o Prêmio Culturas Populares do MINC – Edição Leandro Gomes de Barros, in memoriam de sua mãe biológica, Mãe Beata de Yemonjá. Babá Adailton segue mantendo o legado de sua mãe à frente do espaço sagrado construído por Mãe Beata, a Comunidade de Terreiro Ilê Omiojuarô, localizada em Miguel Couto, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro.

Elisa Larkin Nascimento, autora do texto que abre o livro sorteado, é mestre em Direito e em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Nova York (EUA) e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), e foi parceira de Abdias Nascimento durante os últimos 38 anos de sua vida. Juntos fundaram, em 1981, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Elisa conceituou o fórum Educação Afirmativa Sankofa e escreveu diversos livros, entre eles O Sortilégio da Cor; os quatro volumes da coleção Sankofa; Adinkra, Sabedoria em Símbolos Africanos e Abdias Nascimento, A Luta na Política. É curadora do Museu de Arte Negra online e participa da curadoria da exposição Abdias Nascimento e Museu de Arte Negra, realizada em parceria do Ipeafro com o Inhotim (2021-23). 

Performance de Milsoul Santos. Autor dos livros Pássaro preto e Amor sem miséria, milita politicamente através da arte.

Sorteio: Para participar do sorteio você precisa ter uma conta no Instagram. Até às 21h do dia do sorteio, você vai fazer o seguinte:

(1) Compartilhe este evento no seu Stories, mencione e siga: @ipeafro @pensar.africanamente 

(2) Faça um comentário e marque dois amigos

ATENÇÃO: não é permitido marcar contas fakes. Lembre-se: O prazo é até as 21h do dia do evento. Boa sorte!!!