
Imagem do “santinho” de Abdias Nascimento com o slogan “Não vote em branco, Vote no Preto Abdias do Nascimento” da campanha política de 1950
Neste ano de 2018 o jornal Quilombo, órgão de comunicação do Teatro Experimental do Negro, completa 70 anos. Entre 1949 e 1950, suas páginas traziam artigos e matérias sobre a vida, problemas e aspirações do negro no Brasil e no mundo. Na décima e última edição, o periódico dirigido pelo jornalista Abdias Nascimento deu voz aos candidatos negros. A ideia era dar visibilidade na imprensa àqueles que postulavam cargos eletivos no pleito de 1950. Àquela época, a representatividade do negro, da mulher e do índio nas assembleias legislativas, no Congresso e no Senado era nula. Atualmente quase nada mudou e as exceções só confirmam a regra.
Para ajudar a reparar essa realidade, a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil (CEVENB-RJ), em 14 de junho de 2018, organizou na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), evento para lançar e promover as pré-candidaturas negras nas atuais eleições. Na ocasião, o IPEAFRO manifestou-se publicamente oferecendo aos candidatos a possibilidade de apresentarem suas propostas por meio dos canais de comunicação do Instituto, retomando a iniciativa de Quilombo no final da década de 40.
O jornalista e coordenador de Comunicação do IPEAFRO, Julio Menezes Silva, no plenário da OAB-RJ, alertou que “o enfrentamento dos candidatos é tão grande dentro quanto fora dos partidos”. De lá pra cá, após as convenções partidária, nomes de peso não conseguiram confirmar suas candidaturas na corrida ao pleito de 2018. No caso mais notório, o babalorixá e doutor Ivanir dos Santos, referência no combate ao racismo e na defesa dos direitos humanos, ficou fora da disputa para o Senado Federal pelo Partido Popular Socialista (PPS) por causa de um acordo de caciques, como explica a reportagem da revista Carta Capital.
Outro caso de pleito majoritário foi o de Marcelo Monteiro, pré-candidato ao Senado pelo Partido Pátria Livre (PPL), liderado por João Goulart Filho. Monteiro se dedica, agora, à construção do Partido Popular de Liberdade de Expressão Afro-Brasileira (PPLE), cujo objetivo é “buscar o empoderamento dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, como um instrumento legítimo de defesa do estado democrático de direito e da soberania nacional, na construção de uma sociedade justa, igualitária e pluralista, capaz de tornar o Brasil um país mais forte, desenvolvido e equânime para todos os brasileiros”.
Nesse contexto, o simples fato de termos candidatos negros e negras confirmados nas eleições do próximo domingo, dia 7 de outubro, é motivo para orgulho. Mas nós queremos mais! Queremos representatividade, negra. Queremos mulheres no poder. E três dessas mulheres, do Rio de Janeiro, visitaram o IPEAFRO para entrevistas individuais. São elas: Luciana Xavier (PDT), Mãe Flávia Pinto (PDT) e Tainá de Paula (PC do B). O resultado desse esforço você pode ler abaixo. Outros tantos candidatos e candidatas nos contataram, mas a agenda apertada de campanha e a nossa pequena estrutura não nos permitiu realizar mais entrevistas. Deixamos registrado aqui o nosso sincero pedido de desculpas.
A todos os candidatos negros e negras deste país, desejamos boa sorte nas eleições. Vamos apoiar, vamos cobrar, vamos fiscalizar! E que vocês possam fazer jus à nossa ancestralidade, atendendo os anseios de nossos irmãos tão sofridos nesta terra chamada Brasil.
Bom voto, boa leitura.
Meu nome é Luciana Xavier, tenho 48 anos, sou mulher negra oriunda de uma comunidade do Rio de Janeiro, baseada em Honório Gurgel, (bairro) onde nasci, cresci, casei e criei uma filha. Moro nela (na comunidade) até hoje, com muito orgulho. Dentro dessa comunidade, eu fui crescimento e tendo interesse pelas pessoas.
Eu sou uma mulher favelada, nascida e criada na Vila Vintém (RJ). Estudei como aluna bolsista do programa de ações afirmativas da PUC-Rio, sou socióloga, atualmente mestranda em sociologia política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ, sou gestora pública pela ENAP – Escola Nacional de Administração Pública.
Eu já tenho a militância de anos no direito à cidade, no direito à moradia. Sou uma mulher das lutas urbanas. Nesse lugar de arquiteta e urbanista e percebendo um pouco com o estado que o Rio de Janeiro está, não só falando de golpe, não só da conjuntura nacional mas falando da crise econômica que vivemos, de um acirramento da luta de classes onde há um milhão e duzentos mil desempregados no Rio de Janeiro.