Livro reúne os principais ideogramas e significados do adinkra, forma de escrita africana que abriga o universo filosófico e estético da civilização asante
Durante milênios, os povos soberanos da África foram agentes ativos do desenvolvimento da civilização humana em todo o mundo, numa influência que se estendeu à Ásia, à Europa e à América a partir de sistemas de escrita, avanços tecnológicos, estados políticos organizados e tradições epistemológicas. Criado pelo povo que habita o território que hoje chamamos de Gana, o adinkra é um desses sistemas. Em um universo filosófico e estético baseado no corpo humano, figuras de animais, plantas, astros e outros objetos, os desenhos incorporam, preservam e
transmitem aspectos da história, filosofia, valores e normas socioculturais dessa rica cultura africana. Adinkra – Sabedoria em símbolos africanos apresenta mais de 80 símbolos acompanhados por significados, provérbios e simbologia originais.
“Temos certeza de que o conteúdo deste volume será de grande valor para uma população que, para inserir-se num mundo cada vez mais globalizado, procura fundamentar uma nova articulação de sua identidade. Referimo-nos aí à população brasileira, não só aos negros brasileiros. Mas, para os negros, há uma dimensão especial dessa recuperação de sua identidade. A distorção, o escamoteamento e a supressão das referências sobre sua história e cultura significa ignorar as suas raízes, que são também raízes do Brasil. Esse fato contribui para a baixa autoestima, o que impede o acesso pleno às oportunidades e mina a capacidade de lutar por direitos”, escrevem os organizadores Elisa Larkin Nascimento e Luiz Eduardo Gá.
De acordo com a história oral, o conjunto dos adinkra tem origem numa guerra que o rei dos asante – o Asantehene – Osei Bonsu moveu contra o rei Kofi Adinkra de Gyaaman, hoje uma região da Costa do Marfim. O rei Adinkra teve a audácia de copiar o gwa, banco real do Asantehene e símbolo da soberania e do poder do Estado. Assim provocou a ira do Asantehene, que foi à luta. Vencida a guerra, os asante dominaram a arte dos adinkra, passando a ampliar o espaço geográfico onde impunham sua presença. Antes disso, eram patrimônio dos mallam e dos denkyira, povos da África Ocidental que desenvolveram a técnica no passado remoto.
Um dos adinkra mais conhecidos é o Sankofa – definido como “sabedoria de aprender com o passado para construir o presente e o futuro”. Esse significado também representa o objetivo do livro: é cada vez mais importante que o legado africano seja entendido como uma precondição do aprender e do conhecer para a reconstrução do Brasil como nação. Como celebra o escritor e compositor Nei Lopes, em texto para o volume, “E assim como o kra é muito mais que a ‘alma’, um adinkra é muito mais que um símbolo gráfico. Então, através deste belo acervo, reunido e redesenhado por Elisa Larkin e Luiz Carlos Gá, em momento tão oportuno, a África parece vir dizer aos que a menosprezam e humilham, depois de tudo o que dela já fruíram, este provérbio acã: ‘Se a floresta te abriga, não a chame de selva’”.
A edição conta ainda com o prefácio do professor, historiador e cientista político ganês Anani Dzidzienyo e um ensaio da professora, pesquisadora e artista plástica Renata Felinto sobre os adinkra e os paradigmas não europeus de registro das historicidades. Mais do que uma homenagem a essa ancestralidade, a obra ajuda a fundamentar uma nova articulação da identidade brasileira.
Sobre os autores
Elisa Larkin Nascimento, mestre em direito e em ciências sociais pela Universidade do Estado de Nova York e doutora em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo), dirige o Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros). Idealizou e organizou o curso “Sankofa: Conscientização da cultura afro-brasileira” na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). É curadora do acervo de Abdias Nascimento e autora de O sortilégio da cor (2003) e Sankofa: Matrizes africanas da cultura
brasileira, 4 vols. (2008-2009).
Luiz Carlos Gá é artista plástico, bacharel em design gráfico pela Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foi professor de design gráfico na Escola de Artes Gráficas do Senai, na Escola de Belas Artes da UFRJ, nas Faculdades Integradas Silva e Souza e na Universidade Estácio de Sá. Integra várias organizações do movimento social afro- brasileiro e foi presidente do Conselho Executivo do IPDH (Instituto Palmares de Direitos
Humanos).
Sobre os outros autores colaboradores:
Nei Lopes é escritor e compositor, além de bacharel em direito e ciências sociais e autor de várias obras sobre cultura e história afro-brasileiras, entre elas: Bantos, malês e identidade negra, Enciclopédia brasileira da diáspora africana, Novo dicionário banto do Brasil e O racismo explicado aos meus filhos. Em 2005, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, do MinC, no grau de comendador, e com o Prêmio Tim de música popular como intérprete do “melhor disco de samba”. No ano seguinte, foi focalizado em edição especial da revista dominical do
jornal O Globo como “um dos 100 brasileiros geniais”.
Renata Felinto é artistas visual, pesquisadora e professora. Doutora e mestra em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP e especialista em Curadoria e Educação em Museus de Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da USP. É professora adjunta da Universidade Regional do Cariri/CE, líder do Grupo de Pesquisa NZINGA – Novos Ziriguiduns (Inter)Nacionais Gerados na Arte e integrante da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Vencedora do 3º Prêmio Select de Arte e Educação do PIPA PRIZE 2020 tendo participado de exposições no Brasil e no
exterior.
Anani Dzidzienyo (1941-2020), historiador e cientista político ganês, foi um dos primeiros pesquisadores africanos especializados no Brasil. Lecionou no Departamento de Estudos Luso – Brasileiros da Universidade Brown, nos Estados Unidos.
Título: Adinkra – Sabedoria em símbolos africanos
Organizadores: Elisa Larkin Nascimento e Luiz Carlos Gá
Autores: Elisa Larkin Nascimento, Luiz Carlos Gá,
Nei Lopes, Renata Felinto
Designer: Thiago Lacaz
Idioma: Português
Número de páginas: 160
Editora: Cobogó
ISBN: 978-65-5691-076-5
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21 cm
Ano de publicação: 2022
Preço: R$ 56,00
CDD: 306.40148