Elisa Larkin Nascimento conversa com O’Neil Lawrence, curador da Galeria Nacional de Arte da Jamaica. Ao fundo, no centro, a obra “Okê Oxossi”, de Abdias Nascimento (1974). Foto: César Nascimento
O IPEAFRO contribui com o empréstimo de quatro peças à exposição Histórias Afro-Atlânticas, que reúne, em iniciativa inédita, duas das principais instituições culturais de São Paulo: MASP e Instituto Tomie Ohtake. São cerca de 400 obras de mais de 200 artistas, tanto do acervo do MASP, quanto de coleções brasileiras e internacionais, incluindo desenhos, pinturas, esculturas, filmes, vídeos, instalações e fotografias, além de documentos e publicações, de arte africana, europeia, latino e norte-americana, caribenha, entre outras. A exposição ficará aberta nos dois espaços até o dia 21 de outubro de 2018.
Para ver as peças clique aqui.
ILÊ OMOLU OXUM: 50 ANOS DE TRADIÇÃO E RESISTÊNCIA
Postado em 17/07/2018 por Julio Menezes Silva
Mãe Meninazinha de Oxum (direita) na festa dos 50 anos do Ilê Omolu Oxum. Foto: Elisa Larkin Nascimento
O terreiro Ilê Omolu Oxum completou 50 anos de atividades tendo à frente a ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum, liderança destacada na sua comunidade, pela sua luta contra a intolerância religiosa e em favor da democracia e dos direitos humanos. Ao longo dos anos realizou muitos projetos, inclusive no contexto da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), que celebrou seus 15 anos em junho. O Ilê se lançou recentemente ao desafio da campanha Liberte Nosso Sagrado, que tem o objetivo de retomar os objetos sagrados que foram”apropriados” pelo Estado em ações da polícia, na época em que a prática do Candomblé era criminalizada explicitamente por lei.
Mesmo com o “fim da escravidão”, eram proibidas e perseguidas as religiões e práticas ligadas aos negros, como a capoeira. Assentamentos, vestimentas, objetos sagrados e instrumentos litúrgicos eram proibidos e “confiscados” pelo Estado em operações policiais. Essa história de perseguição da religião de matriz africana ocorre desde que o primeiro africano aqui desembarcou e, de forma mais intensa, na Primeira República (1889-1930) e na Era Vargas (1930-1945), quando três artigos do Código Penal vigente na época criminalizavam essas religiões.
O IPEAFRO esteve presente à cerimônia que marcou os 50 anos do Ilê Omolu Oxum e saúda toda a comunidade, em especial Mãe Meninazinha de Oxum. Axé!
Grupo da Duke University visita o IPEAFRO
Postado em 17/07/2018 por Julio Menezes Silva
Da esquerda para a direita – Cassie Martim, Simran Sing, Elisa Larkin Nascimento, Veronica Niamba, Maria Pita e Magda Silva. Foto: Julio Menezes Silva
Estudantes da Duke University visitaram o IPEAFRO com o objetivo de investigar a herança afro-brasileira. O grupo, formado pela brasileira e professora Magda Silva, do Programa de Língua Portuguesa da universidade norte-americana, teve a oportunidade de assistir apresentação de Elisa Larkin Nascimento sobre história da África, com base na Linha do Tempo dos Povos Africanos e respectivo suplemento didático. Desenvolvido por Larkin Nascimento, o suplemento é instrumento educacional valioso para cumprir os objetivos da Lei 10.639/2003, “desfazer uma visão histórica herdade da ótica colonial e reconstruir a imagem da qual precisamos para fazer a justiça histórica da qual nossa dignidade muito precisa”, nas palavras usadas pelo professor Kabengele Munanga na apresentação do suplemento.
O IPEAFRO se relaciona com seus públicos de diversas formas. Uma delas é por meio do aplicativo de mensagens instantâneas whatsaap, em grupos criados e intermediados pelo Instituto para trocas de informações e saberes do universo afrocentrado. Em um desses espaços digitais contamos com a participação ativa do poeta Carlos Assumpção . “Quando o poeta acorda”, escreve Assumpção em seus momentos de inspiração, vem poesia da boa! Na que segue abaixo, postada no grupo em 13 de julho de 2018, o poeta residente em Franca, cidade onde nasceu Abdias Nascimento, cobra resposta à pergunta que envergonha o Brasil: quem matou Marielle?
QUEM MATOU (Carlos Assumpção)
Quem matou a moça Marielle a nossa nova Dandara Quem matou o menino que ia à escola carregando mochila nas costas Quem matou o homem que embalava o filho na frente de sua casa
Há no ar silêncio enorme Não há nenhuma resposta Será que a justiça dorme Ou a justiça tá morta
Franca (SP), 2018.
“Exu e a Ordem do Universo”: documentário sobre a cultura Iorubá
Postado em 17/07/2018 por Julio Menezes Silva
“Exu e a Ordem do Universo” é um documentário sobre a cultura Iorubá (do Oeste da África) e sua influência no Brasil e em outros países do mundo. A partir da figura controversa de Exu, o filme busca questionar os valores ocidentais ao confrontá-los com o ponto de vista Iorubá sobre o universo. A previsão de lançamento no circuito mundial é em 2019.
FICHA TÉCNICA
Co-produção da Nigéria, Brasil, Eslovênia, Espanha | 90 min
Data: 2019
Diretor: Thiago Zanato
Produtor executivo: Adriana Barbosa and Nasi
Consultor: María Vera (Kino Rebelde)
Diretor de fotografia: Marco Antônio Ferreira
Editor chefe: Danilo Santos
Som: Thiago Zanato, Fred França and Raul Costa
Filmagem adicional: Rogério Lacanna
Produtor: Marilia Frias
Em uma cerimônia repleta de estudantes, dirigentes, pesquisadores, servidores da Universidade e militantes de movimentos negros, a Comissão de Direitos Humanos da USP entregou o Prêmio USP de Direitos Humanos ao professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Kabengele Munanga.
O presidente da Comissão e ex-ministro da Justiça, José Gregori, abriu a cerimônia ressaltando a importância dos Direitos Humanos como instrumento de igualdade, de conciliação, de convivência entre as pessoas. “É em momentos como esse que os fundamentos de uma instituição são recordados e as verdadeiras finalidades que justificam a luta e o desenvolvimento de uma instituição são ressaltadas. Hoje, a USP se mostra coerente com o melhor do pensamento daqueles que a fundaram”, afirmou Gregori.
Em seguida, o professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e membro da Comissão, Ricardo Alexino Ferreira, fez uma saudação emocionada ao homenageado, que foi seu primeiro e único professor negro e africano na USP. Ferreira falou sobre a trajetória de Munanga, sua renomada carreira acadêmica, a militância contra o racismo e o protagonismo no debate nacional em defesa da implantação das cotas e ações afirmativas – principais motivos que levaram à escolha de seu nome para o prêmio.
Em seu discurso, Munanga falou de sua chegada ao Brasil, de sua relação com a Universidade e da luta para implantar as cotas e ações afirmativas na USP. “Eu fui o primeiro negro a ingressar na carreira docente da maior faculdade da USP. Porém, esse fato não foi para mim um motivo de orgulho, mas sim um motivo de questionamento, porque o primeiro negro docente da FFLCH foi um jovem que fugiu do seu país de origem para sobreviver, em vez de ter sido um negro da terra, um negro brasileiro. Costumo dizer que se eu tivesse nascido no Brasil, como cidadão negro, talvez não estivesse sentado neste lugar”, refletiu o homenageado.
Munanga discursa na cerimônia de entrega do Prêmio USP de Direitos Humanos, 29 de junho, Sala do Conselho Universitário.
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O reitor Vahan Agopyan parabenizou o professor e afirmou que “às vezes, os agraciados enobrecem o próprio prêmio, e este é o caso do nosso homenageado de hoje. Pessoas como o senhor são imprescindíveis para a sociedade. Parabéns por sua trajetória, a USP se sente muito honrada em tê-lo como docente”.
Agopyan, que também é um brasileiro naturalizado, lembrou que “nós que escolhemos o Brasil como pátria devemos ajudar a resolver os problemas do nosso País, principalmente aqueles que nos envergonham. Temos que enfrentar essas questões com coragem para que elas sejam superadas e nunca mais repetidas”.
Entre as autoridades que prestigiaram o evento estavam o vice-reitor Antonio Carlos Hernandes; a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda; o secretário adjunto de Desenvolvimento Social, Paulo Roberto Bonjorno; o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente; e o presidente da ONG Educafro, Frei Davi. A apresentação musical do grupo Maria Antonia do Coral USP encerrou a cerimônia.
Prêmio USP de Direitos Humanos
O Prêmio USP de Direitos Humanos foi criado pela Comissão de Direitos Humanos da Universidade em 2000, com o objetivo de identificar e homenagear pessoas e instituições que, por suas atividades exemplares, tenham contribuído significativamente para a difusão, disseminação e divulgação dos direitos humanos no Brasil.
Entre os homenageados que receberam o prêmio em edições passadas estão o médico oncologista e escritor Drauzio Varella, em 2016, e o cientista político Paulo Sergio Pinheiro, em 2014.
A Comissão de Direitos Humanos da USP é presidida pelo ex-ministro de Justiça, José Gregori, e formada pelos professores Sueli Gandolfi Dallari (Faculdade de Saúde Pública), Maria Hermínia Tavares de Almeida e Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari (Instituto de Relações Internacionais), Ricardo Alexino Ferreira (Escola de Comunicações e Artes), Eunice Aparecida de Jesus Prudente (Faculdade de Direito), Taís Gasparian (Instituto de Estudos Avançados), Gustavo Gonçalves Ungaro (Ouvidoria Geral do Estado de São Paulo) e Cristiano Buoniconti Camargo (discente).
Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente da PUC-RJ completa 15 anos
Postado em 13/07/2018 por Julio Menezes Silva
O Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema), da PUC-Rio, completou 15 anos de existência em junho deste ano. Para celebrar a data, o Nirema convidou a socióloga americana Patrícia Collins, que falou de interseccionalidade, justiça social e solidariedade política, ao tempo em que deu posse à sua primeira coordenadora negra, a professora de Direito Thula Pires. O IPEAFRO teve o orgulho de poder homenageá-la com um poema oferecido pelo nosso artista Milsoul Santos.
O IPEAFRO e o Nirema têm um vínculo forte de interesses e atividades em comum. O IPEAFRO contou com a colaboração do Nirema em parceria para realizar várias iniciativas em torno da exposição “Abdias Nascimento 90 anos – Memória Viva” em 2004. A primeira versão da exposição ocupou todo o espaço expositivo do Solar Grandjean de Montigny, espaço cultural da PUC-Rio, por ocasião da conferência internacional da Associação de Estudos Brasileiros (BRASA) daquele ano. Logo depois, o IPEAFRO ocupou todos os espaços expositivos da então recém inaugurada sede do Arquivo Nacional, antiga Casa da Moeda, com a retrospectiva sobre a vida e obra de Abdias Nascimento. O Nirema foi nosso parceiro de realização do Colóquio Internacional “Ancestralidade Africana e Cidadania: o Legado Vivo de Abdias Nascimento” e da mostra de filmes no contexto da exposição. O Nirema ainda contribuiu com a organização de uma equipe de mediadores, alunos negros da PUC-Rio que ajudaram a apresentar a exposição para grupos escolares e de docentes.
Assim como o IPEAFRO, embora de forma indireta, o Nirema surge a partir da luta de alunos negros da PUC-Rio e de docentes como a saudosa professora Lélia Gonzalez, professora e diretora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio no momento de sua morte em 1994. O Nirema surge no contexto das políticas afirmativas de inclusão de negros instituídas pela PUC-Rio como resultado da pressão do movimento negro, mais especificamente dos pré-vestibulares para negros e carentes organizados por Frei David dos Santos, hoje à frente da Educafro. Dessa forma, o pioneirismo da PUC-Rio neste particular se deve à movimentação protagonizada pelos negros brasileiros.
Nossas saudações por esses 15 anos de realizações!