RETROSPECTIVA IPEAFRO 2022

Por Julio Ricardo Menezes Silva e Maria Eduarda Nascimento

14 DE MARÇO DE 2022: OCUPAÇÃO ABDIAS NASCIMENTO NA KAZA 123 CELEBRA LEGADO DE CAROLINA MARIA DE JESUS, ABDIAS NASCIMENTO E MARIELLE FRANCO 
O 14 de março carrega importante simbolismo à luta Negra no Brasil não é de hoje. Nessa data, em 1914, nasceram a escritora Carolina Maria de Jesus e o ativista Abdias Nascimento; em 2018, morreram a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, brutalmente assassinados em crime ainda não desvendado. Quem mandou matar Marielle? Por lei estadual no Rio de Janeiro, o dia 14 de março é Dia do Ativista pelo aniversário de Abdias, e Dia Marielle Franco de Luta contra o Genocídio das Mulheres Negras. Como parte da agenda coletiva 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo 2022, a Kaza 123 e o IPEAFRO realizaram a Ocupação Abdias Nascimento na KAZA 123. O evento teve o propósito de celebrar a vida, a ancestralidade e a continuação do legado deles, que reverbera e traz esperança atualmente na luta pela valorização da cultura negro-africana e contra o genocídio do povo negro. A atividade teve o formato híbrido, com atividades presenciais e transmissão ao vivo pelo canal do IPEAFRO no Youtube, retransmitida pelo canal coletivo 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo. 
https://www.youtube.com/watch?v=dNHfUvetPVM

78 ANOS DE ANIVERSÁRIO DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (TEN) É CELEBRADO NO QUILOMBO URBANO APARELHA LUZIA, EM SÃO PAULO
Em comemoração ao 78° aniversário do TEN, o Ipeafro realizou em São Paulo, dia 13 de outubro, na Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano, o lançamento de dois livros fundamentais para a memória do protagonismo negro na constituição deste país: o clássico do Teatro Negro Brasileiro, ‘Sortilégio’, de Abdias Nascimento, e ‘Abdias Nascimento, a Luta na Política’, de Elisa Larkin Nascimento. O evento contou com presenças destacadas, entre as quais a artista, política e ativista Érica Malunguinho, o escritor Tom Farias, o diretor teatral Jessé Oliveira e a artista plástica e colaboradora do Ipeafro, Dayse Gomes.  A programação trouxe a leitura dramática de trechos de Sortilégio e de textos da atuação política de Abdias Nascimento, além de uma homenagem do Ipeafro aos coletivos de teatro negro de São Paulo. A produção, roteiro e direção artística da atividade foi do premiado artista Ângelo Flávio Zuhalê. Mais detalhes no Instagram do Ipeafro: https://www.instagram.com/p/Cj3sESepnSG/  

TERREIRO CONTEMPORÂNEO RECEBE O LANÇAMENTO DO CLÁSSICO DO TEATRO NEGRO BRASILEIRO, SORTILÉGIO, DE ABDIAS NASCIMENTO 
O Ipeafro, em parceria com a Editora Perspectiva, o Terreiro Contemporâneo, a Cia Rubens Barbot e a Confraria do Impossível fizeram o lançamento da nova edição do clássico do teatro negro brasileiro, Sortilégio, de Abdias Nascimento. O evento contou com as participações de diversas personalidades do mundo das artes: Eloá dos Santos Cruz, Lia Vieira, Hilton Cobra, Ana Flávia Pinto, Luiz Carlos Gá, Filó Filho, Denise Zenícola, entre outros. Quem esteve lá presente também antes de sua passagem para o Orum em 28 de junho de 2022 do inesquecível Rubens Barbot, fundador da Cia. Rubens Barbot de Teatro e Dança, a primeira companhia negra de dança contemporânea do país, há 32 anos Barbot, presente. O Cultne, maior acervo audiovisual de cultura negra da América Latina, fez a cobertura in loco. A produção, roteiro e direção artística do evento foi do premiado artista Ângelo Flávio Zuhalê. Assista: https://www.youtube.com/watch?v=VMW8IaxgPyQ

CONGADO MINEIRO DE MARINHOS E SAPÊ ENCERRAM PRIMEIRO ATO DA MOSTRA ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA NO INHOTIM 
O Congado do Congo e Moçambique de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário de Sapé/Marinhos conduziram o encerramento da cerimônia de encerramento do primeiro ato da exposição, no dia 17 de abril de 2022. A atividade abriu passagem para a montagem do Segundo Ato do Projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra apresentado no Inhotim, em parceria com o IPEAFRO.  Veja mais em: https://www.youtube.com/watch?v=GgJD7JyHPYo 

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM LEDA MARIA MARTINS: “INHOTIM É TERRA DE PRETO, NÉ, QUERIDO?”.
A passagem do Congado do Congo e Moçambique de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário de Sapé/Marinhos deu frutos! No site do Ipeafro registramos a entrevista de Leda Maria Martins. Na entrevista, Leda Maria Martins sobre encruzilhadas, pedagogias e afirma: “Abdias prima por uma atuação da inclusividade”. Leia e/ou assista a entrevista completa em: https://www.youtube.com/watch?v=EQq779TfN38&t=48s

COLUNA IPEAFRO NO CANAL PENSAR AFRICANAMENTE DISCUTE CENA CONTEMPORÂNEA TEATRAL
Nascido junto com o teatro moderno no Brasil, o TEN desenvolveu sua atuação teatral trazendo pessoas negras para o palco e para a dramaturgia como protagonistas. Além disso, atuava politicamente contra a discriminação racial e pelos direitos humanos e sociais do povo negro. Para marcar os 78 anos do TEN, convidamos duas pesquisadoras e protagonistas da cena contemporânea do teatro: Leda Maria Martins e Carmen Luz. O escritor Milsoul Santos também participou da atividade que teve ainda a colunista do Ipeafro Elisa Larkin Nascimento e a mediadora Silvany Euclênio.
https://ipeafro.org.br/coluna-ipeafro-no-canal-pensar-africanamente-discute-78-aniversario-do-ten/

TURNÊ DE LANÇAMENTO DO LIVRO ADINKRA NO RIO PASSA POR MUSEU DE ARTE DO RIO, BLOOKS LIVRARIA, KAZA 123 E IPEAFRO. ABENA BUSIA, POETISA E EMBAIXADORA DE GANA NO BRASIL, MARCA PRESENÇA
Uma série de eventos em torno do lançamento de “Adinkra – Sabedoria em Símbolos Africanos”, organizada por Elisa Larkin Nascimento e Luiz Carlos Gá, publicada pela editora Cobogó, com co-edição do Ipeafro, ocupou os espaços do Museu de Arte do Rio, Livraria Blooks, Kaza 123 e do próprio Ipeafro. Abena Busia, embaixadora de Gana no Brasil, participou da atividade na Kaza 123. Assista a cobertura completa dos eventos produzida pelo Cultne, com entrevistas com os organizadores do livro além de Maria Julia, Miriam Silva, Julia Vidal, Janete Ribeiro, Marcelo Campos, Lica Oliveira e Isabel Diegues. Clica aqui ou em nosso canal do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=XG7diIzpU3k&t=1067s 

DIÁLOGOS INSTITUCIONAIS: TROCANDO COM A REDES DA MARÉ
Sem movimento, nada se faz. Isso quem nos ensina é Exú, orixá responsável pelo movimento, pelas trocas justas e pela comunicação. O IPEAFRO realizou no dia 8 de agosto de 2022 visita institucional aos projetos criados pela Redes da Maré (@redesdamare) inseridos no maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, o Complexo da Maré. A agenda foi uma proposta do IPEAFRO como parte das ações institucionais em torno da mostra Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra no @inhotim, em cartaz até 2024 em Brumadinho (MG). Os locais visitados foram o Centro de Artes da Maré, na Nova Holanda, criado em parceria com a coreógrafa Lia Rodrigues. O projeto oferece cursos de dança e é referência em arte e cultura para os moradores da região. O galpão também recebeu, em 2019, a exposição Abdias Nascimento, a Arte de um Guerreiro, que foi realizada entre os dias 14/03 e 14/06, sendo a abertura na data simbólica do 14 de março: dia do nascimento de Carolina Maria de Jesus e de Abdias Nascimento, e o marco do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Estivemos nas obras do local físico que abrigará a Casa Preta e com educadores da Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto. A Redes da Maré trabalha a partir de temáticas identificadas por representarem direitos fundamentais que ainda precisam ser garantidos (artes, segurança, direitos socioambientais, saúde, etc) e que são veementemente negados pelo Estado. “O trabalho é feito sempre a partir da mobilização, escuta e participação da população, produzindo conhecimento e propondo ações que permitam acompanhar, de maneira sistemática, as mudanças em prol de melhorias significativas e concretas na qualidade de vida dos moradores” é a mensagem institucional da Redes da Maré difundi em seu site. 
Foto📸: https://www.instagram.com/p/CiiRh7jpty2/

“RECUPERAMOS A BANDEIRA!” AFIRMA NEI LOPES EM HOMENAGEM DO IPEAFRO NA FLUP
Toda homenagem a Nei Lopes é pouca. Ainda assim, sempre que podemos, insistimos em fazê-la para reverenciar, em vida, o grande mestre que prefere não ser chamado de griot: há muitas incertezas sobre a origem da palavra. Essa foi uma das inúmeras sentenças proferidas pelo sábio do Irajá na manhã de primeiro de novembro de 2022, no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab). Nei participou de um evento organizado pela Festa Literária das Periferias, a Flup, em homenagem ao centenário de Lima Barreto, sob curadoria da pesquisadora Dra. Angélica Ferrarez. A artista plástica Dayse Gomes representou o Ipeafro na homenagem.  https://www.youtube.com/watch?v=oYC5rwi8KPc

ESTUDANTES DA UNEAFRO VISITAM A EXPOSIÇÃO SOBRE ABDIAS NASCIMENTO NO MASP
A partir de sugestão institucional do Ipeafro, que abriu caminho para um dia no final de semana com entradas gratuitas no MASP, quando a política da gratuidade reserva apenas um dia durante durante a semana, a Uneafro Brasil levou em 14/05, um sábado, uma centena de alunos de núcleos de educação popular distribuídos pelo estado de São Paulo para o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Na semana que marcou os 134 anos da “abolição da escravidão”, o movimento de cursos comunitários pré-vestibulares, com apoio do Ipeafro, proporcionou a visitação para a exposição “Abdias Nascimento: um artista panamefricano”. Os alunos participantes são de núcleos da Uneafro Brasil da zona norte de São Paulo, no bairro Jaçanã e do interior, de cidades como Bebedouro e Jacareí. Em seguida, foi realizada uma aula sobre o 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura formal e sobre o conceito da Abolição Inconclusa, nome dado ao movimento negro para o período pós fim da escravidão, que colocou negros e negras a sua própria sorte, sofrendo uma série de impactos que persistem até hoje. A aula foi ministrada por Ivani Melo, coordenadora do Núcleo de Estudos Yabás, da Uneafro Brasil, e Douglas Belchior. 
Site: https://www.youtube.com/watch?v=rWzZib55txY

ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA NO INHOTIM | SEGUNDO ATO
O Ipeafro e o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), inauguraram o Segundo Ato da exposição Abdias Nascimento e o Museu De Arte Negra. Com o título “Dramas para Negros e Prólogo para Brancos”. A exposição abarca um período marcado pelo teatro na formação artística e política de Abdias Nascimento. Dividida em quatro atos, ela propõe até 2024 um panorama artístico da vida e da obra de Abdias e das organizações que ele fundou, bem como aborda seu legado político-intelectual. 
https://www.youtube.com/watch?v=PoEakj0Q2Hg

MULAMBÖ COMENTA PARTICIPAÇÃO EM TORNO DO LEGADO DE ABDIAS NASCIMENTO
Fala Mulambö! “Nasci João em 1995 e cresci Mulambö na Praia da Vila em Saquarema”. Mulambö é gente boa demais! Conversamos com o artista rubro-negro de sangue na inauguração da exposição “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, no dia 19 de novembro de 2022, na Galeria Lago, no Inhotim. Mulambö tem um trabalho voltado para uma de suas paixões, o futebol. Este ano, o artista colocou o trabalho em campo também na exposição “O penhor dessa igualdade”, que faz parte do 32° programa de exposições do Centro Cultural São Paulo – CCSP (@centroculturalsp). Veja em: https://www.youtube.com/shorts/F3jKtDrydPk 

ARTISTA MINEIRA ANA ELISA GONÇALVES FALA DE COLETIVIDADE EM TORNO DA MOSTRA DE ABDIAS NASCIMENTO NO INHOTIM 
Ana Elisa Gonçalves estava acompanhada de sua mãe na inauguração da exposição “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, no dia 19 de novembro de 2022, na Galeria Fonte, no Inhotim. Conversamos com ela e gravamos um pequeno registro. Assista em nosso canal do Youtube ou clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=jPsa5D_GAes. Organizada pela direção artística e curadoria do Inhotim, a partir de desdobramento da pesquisa iniciada em 2021 em parceria institucional com o Ipeafro, a exposição apresentou o trabalho de 34 artistas: Aline Motta, Ana Elisa Gonçalves, Antonio Obá, Arjan Martins, Desali, Elian Almeida, Erica Malunguinho, Eustáquio Neves, Gustavo Nazareno, Januário Garcia, Juliana dos Santos, Kika Carvalho, Larissa de Souza, Lita Cerqueira, Maxwell Alexandre (que pediu a retirada de sua obra em discordância com curadoria), Moisés Patrício, Mulambö, Nacional Trovoa, No Martins, O Bastardo, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Pedro Neves, Peter de Brito, Rafael Bqueer, Robinho Santana, Ros4 Luz, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Silvana Mendes, Tiago Sant’Ana, Wallace Pato, Yhuri Cruz, Zéh Palito. Veja mais em: https://www.youtube.com/watch?v=jPsa5D_GAes 

CURADOR DERI ANDRADE FALA SOBRE MOSTRA EM TORNO DO LEGADO DE ABDIAS NASCIMENTO NO INHOTIM 
Criador da plataforma Afro-Projeto Afro, voltada ao mapeamento e difusão de artistas negros/as/es, cujo objetivo é ampliar e visibilizar a produção artística de autoria negra no Brasil, Andradade é também a primeira pessoa negra a assumir o posto de curador do Inhotim. Neste vídeo, ele fala sobre a mostra na qual é um dos curadores e que parte do acervo Abdias Nascimento | Museu de Arte Negra | Ipeafro para a sua contextualização.
https://www.youtube.com/watch?v=GqrjhSscsgo 

ABDIAS NASCIMENTO NA EUROPA EM MOSTRA COM IMRAN MIR DO PAQUISTÃO E O HOLANDÊS SEDJE HÉMON
O @stedelijkmuseum, em Amsterdã, Holanda, abrigou a exposição individual de Abdias Nascimentos em diálogo com outros dois artistas: o holandês Sedje Hémon (@sedjehemon) e o paquistanês Imran Mir (@imranmirartist). A exposição faz parte do festival @sonsbeek20_24, cuja a curadoria é de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung (@bonaventurendikung). O curador, aliás, celebrado internacionalmente, já esteve algumas pesquisando no acervo Abdias Nascimento | Museu de Arte Negra | Ipeafro: https://www.instagram.com/p/Bp2JFM6FoGD/. A mostra da Holanda teve parceria institucional do Ipeafro. Mais em: https://www.instagram.com/p/CfcCtN9pPg-/ | https://stedelijkstudies.com/abdias-do-nascimento-being-an-event-of-love/ 

ARTISTA RODRIGUES, DO COLETIVO NEGRO BANZEIROS (MST-PA), PARTICIPA DE MOSTRA EM TORNO DO LEGADO DE ABDIAS NASCIMENTO NO INHOTIM 
Rodrigues tem forte envolvimento com as lutas sociais a partir de seu território no Pará. No Inhotim para mostra que celebrou o teatro negro de Abdias Nascimento e o jornal Quilombo, Rodrigues afirmou que “a gente está aqui nesse espaço no sentido de romper as cercas do latifúndio que não é só a cerca física, né, acho que é a cerca da arte, da atuação, da cinematografia, do teatro”. Nesse sentido, o artista dialoga diretamente com o conceito de Abdias Nascimento presente no livro Genocídio do Negro Brasileiro, no qual defende que o genocídio vai além da morte física: é a morte cultural, espstemólógica, da memória, entre outros. Sábio Rodrigues!  Mais em: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=DSvQaYd2ROA 

ENTREVISTA THIAGO PACHECO NA MOSTRA “ABDIAS NASCIMENTO: UM ARTISTA PAN-AMEFRICANO” NO MASP
Thiago Pacheco é documentarista, diretor de cinema e ativista em Minas Gerais. É formado em Comunicação Social com atuação na imprensa, rádio, eventos, agências de publicidade, ONGs e produções cinematográficas. É analista de comunicação e está ativamente envolvido no registro audiovisual da exposição “Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra”, que até 2024 ocupa a Galeria Mata, no Inhotim. No dia 14 de maio de 2022 estivemos juntes na exposição “Abdias Nascimento: um artista Pan-Amefricano”, com curadoria da feríssima Amanda Carneiro e Tomás Toledo. Para ver a Amanda em ação visite o canal do @MASP no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=rJ3123wOhQs | Quer ver como foi a exposição? Fique em nosso canal e acesse diretamente o tour que fizemos pela exposição especialmente para você: https://www.youtube.com/watch?v=rWzZib55txY

Exposição “O Jardim Secreto do Valongo” no Rio de Janeiro

Thiago Viana na mostra “O Jardim Secreto do Valongo”. Foto: Julio Ricardo Menezes Silva

Com apoio institucional do Ipeafro, neste dia 08 de dezembro, às 17 horas, dia de celebração à Nossa Senhora da Conceição, data que marca a identidade do Morro da Conceição, o Casarão Cultural João Alabá abre as portas para lançar a sua primeira exposição: “O Jardim Secreto do Valongo”. A mostra traz 25 imagens principais e um acervo que complementa o período anterior as obras que tomaram a zona portuária do Rio de Janeiro e a sua consequente ressignificação.  A captura das imagens apresentadas na exposição seguem o formato preto e branco com uso de filme analógico em 35mm. O trabalho fotográfico iniciado no ano de 2008 por João Maurício Bragança apresenta o cotidiano  dos moradores do lugar, traduzindo as territorialidades e os laços de afeto na região do Porto do Rio de Janeiro.

A exposição “destaca ainda imagens da vida de personagens importantes como Radar e Dona Núbia, últimos moradores que habitaram a antiga Casa da Guarda antes das intervenções do Estado do rio de Janeiro no Jardim Suspenso do Valongo. Toda a experiência é acompanhada pela trilha sonora do artista Ambulante Cultural, com intervenções de vídeo de Raquel Batista e curadoria de Patrícia Mentorco. Para a composição do cenário museológico foram utilizadas peças do desmonte do Armazém Cultural das Artes no Santo Cristo.

O Ipeafro esteve representado na pessoa de Julio Ricardo Menezes Silva.

A entrada é gratuita.  Rua Camerino, Sn. 

@ipeafro
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@acasadonando
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@confrariadoimpossivel

Senhora encruzilhada: uma entrevista com Leda Maria Martins

No dia 28 de abril de 2022, sentada em um banco dentro do Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, a prof. Dra. Leda Maria Martins concedeu entrevista para equipe audiovisual responsável pela cobertura da passagem dos congado mineiro pelo museu a céu aberto, como parte das atividades em torno da exposição Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra no Inhotim. Entre os integrantes da equipe, composta por Brendon Campos e Thiago Pacheco, da comunicação do Inhotim, André Luís Nascimento e este autor, pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. A mim coube  a tarefa de dialogar com Leda Maria Martins.

Local: Inhotim
Data: 28 de abril de 2022
Link para vídeo no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=EQq779TfN38&t=213s

Julio Ricardo Menezes Silva (JRMS): O que a senhora viu, o que a senhora sentiu nessa experiência neste domingo Páscoa?

Leda Maria Martins (LMM): Acho que foi muito belo. Essa participação da guarda de Moçambique e do reinado de marinhos, que são terra de quilombo, de fato, né? No termo de seu sentido mais prenélovo, original: são negros em terra de quilombo. Inhotim é terra de preto, né, querido? As grandes fazendas que eram essa terras num passado mais longínquo, a formação de minas em todos os sentidos, ela tem muito a ver com os povos africanos que foram trazidos pra cá, né? Especialmente para Minas Gerais. Então os negros africanos construíram esse Estado, em tudo. Quando você pensa a história de Minas Gerais, que é um dos estados mais importantes no Brasil, na história no Brasil, nós estamos falando de um sem número de insumos que foram trazidos como aporte civilizatório pelos negros, particularmente os povos Bantu. Então quando você pensa em Minas, na mineralogia, na arquitetura, na engenharia, nas artes plásticas, seja na escultura, seja pintura. Nas artes performáticas… O 1° teatro da América Latina é de Ouro Preto, de Minas Gerais, e na época, as companhias de teatro eram compostas por negros. Você pensa nas orquestras… Então, música, dança, arquitetura, engenharia, medicina, mineração, metalurgia e a religiosidade, o aporte religioso. A herança mineira é particularmente Bantu. Aliás, o Brasil quase todo é Bantu. São os povos Bantu que civilizam o Brasil, de norte a sul, de leste a oeste. Os reinados são tradição Bantu….

Eu mesma dei uma entrevista para o podcast aqui de Inhotim que se tratava de deslocamento. O que nós estamos vendo? Um deslocamento e um reassentamento dessa vez. É importante, primeiro: essa reapropriação dos negros por esse espaço. Ou seja, esse não pode ser um espaço para elite branca. E geralmente, a não ser em situações assim, os negros não entram em Inhotim. Inhotim, apesar de ser essa maravilha que é, um dos museus mais conceituados no mundo, ele não é uma espacialidade inclusiva…. e tendo Abdias aqui, quer dizer, um dos grandes ideais de Abdias, e isso não era quando ele se torna político-partidário, né? Não, isso vem desde os primórdios da atuação de Abdias. Abdias prima por uma atuação da inclusividade. A inclusividade da atuação negra, a inclusividade dos saberes negros, da inclusividade das epstemologias negras, das artes negras e da pessoa negra, do povo negro. Então, Abdias estar em Inhotim, olha bem, já é uma intrusão, porque esse não é um espaço inicialmente pensado para negros apesar de ser terra de negros. Originariamente isso é terra de preto, isso é terra de negro. Então, Abdias estar aqui com uma exposição que integra o Museu de Arte Negra que ele tanto idealizou como várias outras coisas, isso é muito interessante. Agora, isso não pode estar exilado da toda a população de Brumadinho. Aí eu te pergunto: o povo de Brumadinho tem vindo aqui? Porque é uma ótima oportunidade de nós criarmos pedagogia… de acrescer os conhecimentos. Seria muito interessante, Julio, que você trouxesse as escolas… Crianças e adolescentes de todos os níveis, sejam do ensino fundamental, ensino médio, das universidades. Tem várias faculdades ao redor de Brumadinho. Que elas viessem para conhecer a exposição e conhecer Abdias. E conhecer a história do Brasil.  E conhecer o papel do negro na história do Brasil conhecendo a história de Abdias como um dos mais ativos, né, personagens negros da hstoria do Brasil. Isto é importante! Não deixar que a exposição se transforme simplesmente em alguma coisa talvez no sentido mais antigo (no sentido) museológico, mas que a exposição se Abdias seja alguma coisa da ordem de um princípio motor de uma sínesi, que é o que funda o pensamento negro, né? A sínese, movimento, a retirar as coisas de lugar pré determinados. Então, eu acho que é importante que Abdias esteja aqui, que a exposição dele esteja aqui, isso pra mim é uma própria infusão no Inhotim. Isso tem que significar alguma coisa em relação ao próprio museu e parque Inhotim, mas também pode ser pensado como meio de expansão do movimento, sabe? Não como uma exposição que chega e vai embora, mas uma exposição que deixe lastro, rastros, sabe? Olha pra você ver: a ideia de trazer o povo de reinado é para que a exposição seja também tematizada por eles. Quando a exposição sair, alguma coisa de Abdias fica conosco e a exposição leva alguma coisa também nossa aqui das Minas.

JRMS: A senhora falou norte, sul, leste e oeste. A senhora falou também a respeito do teatro… eu queria entrar um pouquinho na sua vivência e falar um pouquinho de encruzilhada. Como foi isso na sua vida (LMM dá uma leve risada neste momento)? A senhora teve um trabalho acadêmico que é quase um ato heróico de conceituar algo que é tão difícil de ser conceituado, que são as encruzilhadas. O que tem de encruzilhada nessa exposição e como as encruzilhadas chegaram na sua vida? 

LMM: Você sabe que, na verdade, eu estava falando hoje quando a gente conversava off… naquele momento eu pensei que eu também devo a Abdias eu ter proposto as encruzilhadas como clave teórico metodológica. Porque era justamente quando eu fazia meu doutorado, e o doutorado era a comparação do teatro negro no Brasil e nos Estados Unidos… e no Brasil eu pegava justamente como repertório o Teatro Experimental do Negro (TEN). O foco no Brasil era esse… então eu comparava com o teatro negro nos Estados Unidos nos anos 1960. E olha para você ver que coisa interessante… O Teatro Experimental do Negro no Brasil nos anos 1940, que esse teatro que Abdias funda, ideializa e impulsiona era muito mais radical já nos anos 1940 aqui do que lá. Então eu vou comparar o teatro negro aqui dos anos 1940, o TEN, com o teatro negro lá dos anos 1960. Aí eu consigo estabelecer um nível comparativo. 

E minha grande dificuldade não era as peças. Claro, a pesquisa foi dificultosa no Brasil porque não havia nada como há hoje, né? Se você pensar que estava fazendo essa tese em meados dos anos 1980, não tinha nada. Então eu passava horas e horas na biblioteca nacional fazendo pesquisa toda semana…. o que acontece? Enquanto eu elaborava, eu não encontrava as claves teórico conceituais e metodológicas. Eu já tinha um um grande conhecimento das teorias do teatro ocidental mas eu não achava nelas instrumentais. Tanto as peças do Teatro Experimental do Negro no Brasil quanto nos Estados Unidos me exigiam claves teóricas que não existiam. E aí que eu vou buscar de dentro das culturas negras a encruzilhada, que habita como epistemologia, seja os povos iorubá, seja os povos bantu. Ali eu vou explorar as encruzilhadas como esse lugar de cruzamento semiótico e vou começar a construir e elaborar um conceito que desde então, isso tem praticamente quase 40 anos, meados dos anos 1980, eu proponho encruzilhadas como clave teórica para se pensar de dentro das culturas negras epistemologicamente. Aí vai ser a primeira vez também que alguém vai utilizar Eux como clave, como princípio epistemológico do movimento…. tem essa grande sacada de trazer a encruzilhada como esse lugar… uma clave teórico metodológica. Eu não estou lidando ali especificamente como religião. É o que eu sempre digo: esses princípios de cognição que mantam a culturas negras, eles são pré, pré religião. Eles existem como os grandes princípios  que estruturam o pensamento. E daí as formas de pensamento. É daí que vão derivar todas as religiões, todas as artes, todas as cosmo percepções de mundo, né, assentadas nesses princípios estruturantes. A encruzilhada é um deles, a ancestralidade é outro, o tempo espiralar é outro, as oralituras são outros, né, são todos princípios que eu vou oferecer como chave teórico metodológica para se pensar, primeiro, a diversidade das culturas negras e das manifestações negras. Encruzilhadas surge ali, em meados dos anos 1980, né, e é um conceito que cria pernas… E eu digo: muitas vezes os autores aparecem na criação. E muita vai usar a encruzilhada e nem vai mencionar…  e ela criou pernas mesmo, né? E todo mundo vai usar encruzilhadas, né? (…) Eu faço muita questão de dizer: não estou usando como abstração ou como metáfora. O que eu proponho é uma clave teórica-epistemológica. E para se pensar epistemologicamente também as manifestações negras, que são muito variadas e diversas. Nós não somos unos, né? Nós somos muito diversos. Então, exige de nós também, acho que é necessário que a variedade e pluralidade das culturas negras… exijam de nós também aportes plurais para pensá-las, né? Repara só: quem poderia pensar, quando foi criado Inhotim, apesar disso aqui ser casa de negro… anteriormente ter sido (Leda solta uma gargalhada)… E que é trabalhada por negros, e que é formatada por negros,  quer dizer, algumas décadas…esse cruzamento que se dá agora também…  é resultado disso que você está ouvindo aqui (neste momento, ao fundo, o som dos Reinados do Sapê e XXXXX cantam para ir embora daquele território, quando o som invade nossos ouvidos e faz Leda referenciar o que escutava então) das insurgências dos reinados, da atuação de Abdias… olha pra você ver… nós estamos em reinado se reterritorializando nessas terras, assim também como Abdias. Então, é um cruzamento maravilhoso, querido. E nós podemos pensar encruzilhadas de vários modos: toda a estética de Abdias é centrada na tradição nagô iorubá, que ele reverencia, né? Olha para você ver (indica Leda Maria Martins, fazendo um gesto com o dedo indicador para atrás e por cima do ombro, de onde vem a força da voz e dos instrumentos, das oralituras): os bantos saudando os nagôs. Tudo cruzado!