Nota sobre as intervenções em curso nos morros do Pão de Açúcar e Urca (RJ)

Na qualidade de integrante do Comitê Gestor do Cais do Valongo recém reconstituído pelo IPHAN e de entidade radicada no Rio de Janeiro, portanto fazendo parte de sua população, o IPEAFRO vem aderir à manifestação do ICOMOS em relação à contratação, licenciamento e início de realização de obras no Pão de Açúcar, Patrimônio Mundial, sem que a empresa tenha apresentado elementos imprescindíveis à análise, como um estudo detalhado de resistência do maciço rochoso, sondagens, o detalhamento do projeto de perfuração, o volume de rocha a ser alterado/perfurado, e assim por diante.
 
Estamos diante de um poder público que há pouco tempo realizou obra de ciclovia com procedimento semelhante, resultando na morte de um cidadão que realizava seu passeio de bicicleta confiando na segurança que lhe seria garantida pela responsabilidade das autoridades competentes no planejamento e execução de obras públicas.
 
Neste caso, sublinhamos o agravo de a intervenção ser realizada em um bem do Patrimônio Mundial, sem o devido respeito aos requisitos decorrentes desse reconhecimento, que agrega considerável valor à atração turística supostamente “beneficiada” pela obra que está em curso. 
 
Trata-se de um exemplo que nos preocupa pelo que indica sobre o possível respeito dessas mesmas autoridades para com um bem do Patrimônio Mundial como o Cais do Valongo, cuja vinculação com a história escravista do país tende a torná-lo objeto de atitudes negacionistas e de pouco apreço por parte de segmentos da população apoiadores dessas mesmas autoridades.
 
Conclamamos a sociedade civil e os órgãos administrativos competentes a manifestarem sua rejeição à irresponsabilidade na gestão da coisa pública, exigindo e providenciando a imediata suspensão das referidas obras no Pão de Açúcar.
 
Rio de Janeiro, 6 de abril de 2023