TEN – Estudo da personagem negra em duas peças

TEN – Estudo da personagem negra em duas peças encenadas (1947-51) é a dissertação de Mestrado de Christian Moura, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Paulista (UNESP) em 2008. O autor diz a respeito de seu trabalho:

No ano de 2014, o Teatro Experimental do Negro – TEN completará 70 anos da inauguração de seu projeto artístico. O TEN apresentou-se pela primeira vez em 21 de dezembro de 1944 na cidade do Rio de Janeiro, colaborando na peça Palmares, da então estreante dramaturga e poetisa carioca Stella Leonardos. A montagem foi realizada na sede da União Nacional dos Estudantes, UNE, no bairro do Flamengo, com a produção do Teatro do Estudante e direção de Paschoal Carlos Magno.

Em 08 de maio de 1945, o espectro do nazismo era exorcizado na Europa pelas forças do Exército Russo. A Segunda Guerra chegava ao fim, com a vitória dos aliados e a capitulação do III Reich. No centro do Rio, lugar dos bares, cafés e teatros, as pessoas se reuniram para celebrar o término do conflito. Foi nessa atmosfera que o TEN estreou sua primeira montagem, o texto O Imperador Jones, do dramaturgo estadunidense Eugene O’Neill, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A peça teve a direção geral de Abdias do Nascimento e contou com a colaboração do fotógrafo José Medeiros, do diretor teatral alemão Willy Keller, do cenógrafo Santa Rosa, do encenador Léo Jusi e cenários de Enrico Bianco. No elenco, estrelaram dentre outros nomes, Aguinaldo de Oliveira Camargo, Arinda Serafim, Sadi Cabral, Natalino Dionísio e José da Silva. Ilena Teixeira e Ruth de Souza participaram do Recitativo Coral que iniciava o espetáculo com textos de Aladir Custódio e Langston Hughes, antes da peça de O’Neill.

Passados quase 70 anos, o registro e a reverberação dessa experiência para a memória da produção artística e cultural do país continuam aquém de sua dimensão histórica. Trata-se de uma empreitada teatral e artística que marcou a cultura e a história do teatro brasileiro.

Meu estudo da aventura teatral do TEN partiu da necessidade de preencher essa lacuna, potencializada por inquietações causadas por lembranças da minha infância, principalmente dos filmes e das novelas e peças a que assistia, nas quais o artista negro, mesmo quando em evidência, interpretava personagens caricatos e estereotipados. Tais lembranças impulsionaram a busca de uma dramaturgia que problematizasse a representação do negro brasileiro. O resultado foi o encontro com a publicação Dramas para Negros e Prólogo para Brancos. Tal livro é uma antologia publicada pelo TEN em 1961, no qual há peças em que, pela primeira vez, abordavam-se temas relacionados às culturas afro-brasileiras, aos conflitos raciais e ao estigma da cor negra.

O TEN significou uma iniciativa pioneira, pois se constituiu como um grupo teatral de vanguarda que arregimentou a produção de textos com novas abordagens para a construção da personagem negra, bem como, propiciou o surgimento de novos talentos, entre os quais Aguinaldo Camargo, Arinda Serafim, Claudiano Filho, Haroldo Costa, Marina Gonçalves, Ruth de Souza e Léa Garcia, além de influenciar a criação de outros grupos negros e semear uma discussão que permanece em aberto, qual seja, a questão das formas de representação do negro na dramaturgia e nos palcos de um país cuja mestiçagem é intensa.

Christian Moura