RUTH DE SOUZA E AS MULHERES NEGRAS NO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO

Ruth de Souza com Aguinaldo Camargo e José Maria Monteiro (fundo) em “O Filho Pródigo”, de Lúcio Cardoso (Teatro Ginástico, Rio de Janeiro, 1947)

No último sábado, dia 12 de maio, a diretora do IPEAFRO, Elisa Larkin Nascimento, participou do jantar em homenagem à atriz Ruth de Souza, no restaurante La Fiorentina, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro. Amigos e colegas celebraram a vida desta grande dama do teatro brasileiro no seu aniversário. 
 
Reafirmando nosso carinho pela Ruth, e nosso profundo respeito à sua destacada carreira que tanto honra a cultura brasileira, registramos a participação das mulheres negras na estreia do Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1945, com a peça O imperador Jones, no Theatro Municipal. O papel da Velha Nativa, única personagem feminina do texto, foi desempenhado por Arinda Serafim. Ruth de Souza participou do Recitativo Coral que compôs o espetáculo junto com a peça de Eugene O’Neill. Do Recitativo Coral participaram outras mulheres negras, como Ilena Teixeira, que declamou a poesia “Menina do Morro”, de Aladir Custódio. Ruth fez o papel da Velha Nativa em apresentações posteriores de O imperador Jones.
 
Arinda Serafim era empregada doméstica quando atendeu o chamado do recém-criado Teatro Experimental do Negro (TEN). Ela teve papel de liderança na organização das mulheres negras dentro do TEN, e nas várias iniciativas do grupo em defesa dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas. Mais tarde, Arinda Serafim trabalhou como atriz em filmes do saudoso diretor Nélson Pereira dos Santos. Infelizmente, há poucos registros documentais e iconográficos dessa mulher guerreira que atuou na estreia do TEN ao lado de outras mulheres negras. Elas pisaram, junto com nossa diva Ruth de Souza, o palco do Theatro Municipal na estreia do TEN em 1945. Marina Gonçalves e Guiomar Ferreira de Mattos são outras duas mulheres negras com destacada presença no Teatro Experimental do Negro.
 
Vale observar que a estreia do TEN foi realizada 11 anos antes da peça Orfeu da Conceição, cujo elenco foi organizado pelo TEN e que frequentemente se cita, de forma equivocada, como se fosse a primeira ocasião em que um elenco negro pisou no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.