25 de julho, Lélia Gonzalez e o Axé do Sangue e da Esperança

Em 1992, mulheres negras de mais de 70 países reuniram-se na República Dominicana para a realização do 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe. Foi a partir deste encontro que se instituiu o dia 25 de julho como o Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe. No Brasil, a data foi criada em homenagem à quilombola Teresa de Benguela, líder quilombola, rainha e chefe de Estado Tereza de Benguela, mulher negra que viveu no Vale do Guaporé, no Estado do Mato Grosso. Tereza liderou o Quilombo de Quariterê onde implantou uma espécie de parlamento e um sistema avançado de defesa que resistiu da década de 1730 até o final do século do século XVIII, quando foi perseguida e assassinada pelo governo imperial. 

Leitura: livro “Axés do Sangue e da Esperança”, de Abdias Nascimento

O IPEAFRO faz homenagem ao 25 de julho relembrando que, há anos, provocado pela data, digitalizou e disponibilizou o livro Axés do Sangue e da Esperança – Orikis, de Abdias Nascimento. O livro faz homenagem à mulher negra pensadora, estudiosa e ativista Lélia Gonzalez,  antropóloga e filósofa cujo texto de introdução enriquece e dinamiza a leitura ao trazer o olhar e o intelecto feminino negro. Quando faleceu em 1994, Lélia era fundadora do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras e diretora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio. Além da introdução de Lélia, o livro traz texto de orelha do filósofo e mestre Muniz Sodré, que junto com Lélia aborda o caráter único da expressão poética de Abdias, provindo de sua erudição em torno de uma matriz cultural e epistemológica de origem africana. E prefácio de Paulo Freire, educador mundial que registra a dimensão pedagógica do trabalho de Abdias.

QUILOMBO RIO DOS MACACOS CONQUISTA TITULAÇÃO

Foto: Arrison Marinho/CORREIO

“Hoje a gente está assinando a nossa carta de alforria”, definiu Rosemeire dos Santos Silva, líder comunitária do Quilombo Rio dos Macacos durante a assinatura da titulação do quilombo, nesta terça-feira 28 de julho. Uma vitória secular! A luta histórica por reconhecimento durou mais de um século, sendo que desde a década de 1950 o quilombo convive com a invasão da Marinha do Brasil e passa por um processo violento de racismo institucional e estrutural por parte do Estado. A luta do Quilombo Rio dos Macacos foi registrada em filme documentário (120min, 2017), sob direção de Josias Pires. No Fórum Social Mundial 2018, o IPEAFRO e parceiros realizaram atividades que tiveram o objetivo visibilizar a luta quilombola, resultando em apoio e na criação de um documento assinado por diversas instituições. 

DADOS: a titulação do quilombo Rio dos Macacos é uma vitória, sem dúvida. Mas há de ser lembrado que menos de 7% das comunidades quilombolas brasileiras têm a titulação, ou seja, o reconhecimento do Estado sobre a legitimidade de suas terras. A política de promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo foi desmontada após a publicação da EC95/2016, o chamado Teto de Gastos. A regularização fundiária de territórios quilombolas ficou sem recursos, mesmo constando no PPA 2016-2019 (Fonte: Inesc).

O IPEAFRO acompanha a luta quilombola há décadas: executou, em 1982 e 1983, pesquisa pioneira sobre as comunidades quilombos. Com a participação do historiador Joel Rufino dos Santos e dos professores Abdias e Elisa Nascimento, a pesquisa documentou em slides, fotografias e entrevistas com lideranças comunitárias a vida e os problemas dessas comunidades. Na imagem, Abdias Nascimento com um gravador nas mãos registra conversas com moradores de uma das comunidades quilombolas de Alcântara, chamada Cajueiro. Naquela época a situação das comunidades locais não era muito diferente dos dias de hoje.

EMICIDA NO RODA VIVA: uma voz poderosa

Por @juliomenezessilva

O rapper e escritor Emicida participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido em 27 de julho de 2020. Em plena pandemia, o rapper, que tem se mostrado um ferrenho defensor do isolamento social como prática de prevenção à covid-19, optou por não ir ao estúdio da TV, que fica na cidade de São Paulo. Emicida, que reside e produz de sua residência na Serra da Cantareira, falou de sua relação com a natureza e o que a produção de queijos têm a ver com a covid-19. Sem vacilar, em mais de uma hora e meia de programa, mostrou-se uma das vozes mais consolidadas da nova geração do pensamento social brasileiro. O rapper, claro, fez o dever de casa apresentando ao público referências tais como Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Nei Lopes, Luiz Antônio Simas entre outros. Abdias Nascimento e o seu conceito de aquilombar-se foi lembrado, além de seu livro, a nova edição de seu livro “O Quilombismo“, usado por Emicida como cenário para essa já histórica entrevista. Assista:

 

 

Artigo: “Violenta falta de ação diante do coronavírus é genocídio, sim; isso é crime”

Leia artigo da diretora do IPEAFRO Elisa Larkin Nascimento publicado no portal UOL, que trata sobre o genocídio do negro brasileiro a partir de dois exemplos recentes: 

“Duas mulheres brancas, lourinhas. Uma delas esposa do governador, com cargo na fundação social do Estado. Rindo, as duas aconselham as amigas: não tenham pena dessa gente que fica na rua. São uns irresponsáveis, não querem ficar nos abrigos. Responsáveis somos nós, mulheres poderosas. Chegamos aonde estamos por mérito e competência. Outra primeira-dama lourinha manda a empregada negra passear com o cachorro. Enquanto a serva cuida do xixi do amado canino da madame, esta põe o filho da empregada no elevador e o manda passear sozinho. Com 5 anos. Ele cai do nono andar e morre espatifado. Por mérito, naturalmente, a dona primeira-dama paga fiança e fica solta.

Leia aqui: https://www.uol.com.br/universa/colunas/2020/07/24/violenta-falta-de-acao-diante-do-coronavirus-e-genocidio-sim-isso-e-crime.htm?cmpid=copiaecola