IPEAFRO promove celebração do 78º aniversário do Teatro Experimental do Negro

Atividade na Aparelha Luzia terá lançamento de dois livros que registram o legado de Abdias Nascimento, homenagem a coletivos de teatro negro de São Paulo e outras atrações

Abdias Nascimento (centro) ministra aula de alfabetização e cidadania no contexto de realizações do Teatro Experimental do Negro, 1944. Acervo Ipeafro

São Paulo, outubro de 2022 – Em comemoração ao 78° aniversário de fundação do Teatro Experimental do Negro (TEN), o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) realiza em São Paulo, dia 13 de outubro, às 18h30, na Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano, o lançamento de dois livros fundamentais para a memória do protagonismo negro na constituição deste país: o clássico do Teatro Negro Brasileiro,  ‘Sortilégio’, de Abdias Nascimento, e ‘Abdias Nascimento, a Luta na Política’, de Elisa Larkin Nascimento. Será um encontro de intelectualidades negras – escritores, políticos, autoridades religiosas, ativistas e artistas comprometidos com a pauta racial. Entre os nomes confirmados estão Érica Malunguinho e Jessé Oliveira.

A programação trará a leitura dramática de trechos de Sortilégio e de textos da atuação política de Abdias Nascimento, além de uma homenagem do Ipeafro aos coletivos de teatro negro de São Paulo. O evento tem produção, roteiro e direção artística do premiado artista negro e baiano Ângelo Flávio Zuhalê. “A noite será uma linda  celebração  do legado do Teatro Experimental do Negro que inspirou os diversos coletivos de teatro negro em todo o país. O público entrará em contato com as personagens icônicas do clássico do Teatro Negro Brasileiro, Sortilégio, de Abdias Nascimento performadas por artistas da cena de São Paulo”, conta Zuhalê, que também é diretor teatral,  dramaturgo, roteirista e fundador da Cia. Teatral Abdias Nascimento, em 2002, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), primeira Cia. de teatro negro em território acadêmico do Brasil.

Fundado no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1944, o Teatro Experimental do Negro fez da arte dramática uma ferramenta política para inserir pessoas negras na cena brasileira. O grupo se propôs a recuperar as contribuições ao país da pessoa e da cultura africana e afrodescendente, negadas por uma sociedade imbuída de conceitos pseudo-científicos e eugenistas sobre a suposta inferioridade da raça negra. Mas o TEN ultrapassou a fronteira dos palcos: promoveu cursos de alfabetização e cidadania; fundou o jornal Quilombo, referência histórica da mídia negra; criou o Museu de Arte Negra, cujo acervo, guardado pelo Ipeafro, está em exposição na mostra Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, até 2024. 

Levando  adiante o legado de Abdias Nascimento e das organizações criadas por ele, o Ipeafro escolheu a Aparelha Luzia, fundada em 2016 pela ativista, artista, crítica de arte, educadora e Deputada Estadual por São Paulo, Érica Malunguinho, para ser palco da celebração dessa data histórica. “O terreno urbano criado pela embaixadora do Museu de Arte Negra / Ipeafro, a deputada Érica Malunguinho, é foco de convivência das artes e artistas negras contemporâneas de todos os gêneros e gerações de São Paulo. A deputada é uma das várias herdeiras do legado de Abdias Nascimento e sua atuação nas artes e na política. Nada mais natural, adequado e inspirador do que realizar essa celebração na Aparelha Luzia”, diz Elisa Larkin Nascimento, autora, pesquisadora e co-fundadora do Ipeafro.

Diante da ameaça à democracia e dos recorrentes assassinatos e agressões à população negra e à comunidade LGBTQIA+ que nos afligem hoje, a celebração da companhia de teatro criada por Abdias Nascimento retoma e valoriza a atuação política deste intelectual e artista defensor dos direitos humanos, com o lançamento de dois livros que documentam sua trajetória. O livro Abdias Nascimento, a Luta na Política, de Elisa Larkin Nascimento, conta com um texto da deputada Érica Malunguinho. Ambas as autoras estarão presentes no evento para uma sessão de autógrafos, como também o ator e diretor teatral Jessé Oliveira, fundador do grupo Caixa Preta de teatro negro de Porto Alegre. Ele é autor do ensaio que traz a presença e o depoimento de protagonistas e realizadores do teatro negro atual, em todo o Brasil, para a nova edição do clássico do teatro negro brasileiro Sortilégio, de Abdias Nascimento. O livro inclui, ainda, uma entrevista com Ângelo Flávio, diretor e produtor da estreia mundial do texto definitivo de Sortilégio, que também participa da noite de autógrafos.

O evento, em comemoração ao 78° aniversário de fundação do Teatro Experimental do Negro é uma parceria institucional entre Aparelha Luzia, Editora Perspectiva, GRIOT Assessoria e IPEAFRO.

SERVIÇO
Evento: 78°aniversário de fundação do Teatro Experimental do Negra
Local: Aparelha Luzia – Rua Apa, 78 – Campos Elíseos, São Paulo
Horário: 18h30
Entrada: gratuita (sujeito a lotação)

SINOPSES DOS LIVROS

  1. SORTILÉGIO

Incrível a atualidade desse clássico do teatro negro brasileiro. A cada vez que nos deparamos com um texto de Abdias Nascimento, salta aos olhos o frescor, a pertinência e a contundência de sua prosa ou poesia, de seus diálogos, de sua força, de sua capacidade como orador. Sortilégio escancara a brutalidade do racismo no Brasil, denuncia a farsa da democracia racial e ainda ilumina e se abre para uma poderosa cultura brasileira de matriz africana. Esta edição marca o estabelecimento do texto definitivo da peça, musicado por Nei Lopes, e traz análise de Elisa Larkin Nascimento sobre as encruzilhadas e os diálogos que a obra provoca entre o masculino e feminino, o moderno e o contemporâneo. Em texto do diretor, produtor e gestor cultural Jessé Oliveira, o livro traz à cena os realizadores atuais de teatro negro, complementado por entrevistas com Léa Garcia, atriz protagonista da montagem de estreia em 1957, e Ângelo Flávio Zuhalê, diretor da montagem de 2014, centenário de Abdias Nascimento.

 

FICHA TÉCNICA

Autor: Abdias Nascimento
Apresentação e Prefácio: Elisa Larkin Nascimento
Participação: Léa Garcia, Jessé Oliveira e Ângelo Flávio Zuhalê
Assunto: Teatro / Dramaturgia
Coleção: Paralelos
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 21 cm
160 páginas
ISBN 9786555051087
E-book: 9786555051094
Lançamento: 27/05/2022

  1. ABDIAS NASCIMENTO, A LUTA NA POLÍTICA

Abdias Nascimento foi uma das mais importantes e brilhantes lideranças do Brasil, dedicando-se intensamente ao enfrentamento do racismo e à promoção do legado cultural afro-brasileiro. Escritor, artista plástico, dramaturgo, deixou um legado cultural incontornável através do TEN, Teatro Experimental do Negro, das pinturas que realçam sua ligação com a cultura africana e dos livros que denunciam o racismo e a violência das relações étnico raciais no Brasil. Na década de 1980, ele se dedicou à política institucional do Congresso Nacional, onde acreditava ser necessário pôr em pauta as questões raciais e implementar políticas públicas de reparação. Muito do debate atual e das políticas públicas inauguradas no país, nós devemos à sua atuação parlamentar, que é o objeto deste livro.

FICHA TÉCNICA

Autora: Elisa Larkin Nascimento
Coleção: Debates
Assunto: Política
Formato: Brochura
Dimensões: 11,5 x 20,5 cm
240 páginas
ISBN 9786555050806
E-book 9786555050813
Preço E-book: R$ 34,90
Lançamento: 29/11/2021

Sobre o IPEAFRO

O IPEAFRO é uma instituição sem fins lucrativos que se dedica ao trabalho de preservação e difusão do acervo museológico e documental de Abdias Nascimento e das organizações que ele criou. Esse trabalho dá suporte à sua missão mais ampla de desenvolver ações de caráter educativo centradas no conhecimento e na valorização da história e cultura africanas e afro-brasileiras.

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Sobre Elisa Larkin Nascimento 
É mestre em Direito e em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Nova York (EUA) e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Foi parceira de Abdias Nascimento. Juntos fundaram o IPEAFRO, em 1981. Elisa conceituou o fórum Educação Afirmativa Sankofa e escreveu diversos livros, entre eles O Sortilégio da Cor; os quatro volumes da coleção Sankofa; Adinkra, Sabedoria em Símbolos Africanos e Abdias Nascimento, A Luta na Política. É curadora do Museu de Arte Negra virtual do Ipeafro e participa da curadoria da exposição Abdias Nascimento e Museu de Arte Negra, realizada em parceria com o Inhotim (2021-24).

Sobre Ângelo Flávio Zuhalê 
É ator, diretor, produtor, iluminador, dramaturgo, roteirista, preparador de elenco e repórter. Bacharel em Artes Cênicas com habilitação em Direção Teatral formado pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (2006). Artista premiado e polivalente, ele fundou a primeira companhia de teatro negro em território acadêmico do Brasil, a Cia Teatral Abdias Nascimento na UFBA (2002). Paralelo à sua carreira profissional, Ângelo Flávio é um ativista que luta em defesa das causas sociais, temas sempre recorrentes em suas premiadas montagens. É pesquisador do teatro negro, com palestras em diversas universidades dopaís e um dos entrevistados do livro Sortilégio, ao lado de Léa Garcia e Jessé Oliveira.

Sobre Jessé Oliveira 
Jessé Oliveira é gestor cultural, autor e diretor de teatro e mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fundador do grupo Caixa-Preta, de Porto Alegre, ele dirigiu mais de 40 espetáculos, apresentados em todo o Brasil e na América Latina. Dirigiu Das Pferd des Heiligen na Alemanha, com texto de Viviane Juguero e argumento do diretor. Recebeu o Prêmio Florêncio de Melhor Espetáculo Estrangeiro no Uruguai, por Hamlet Sincrético. Tem livros publicados nos campos do teatro de rua e teatro negro. Dirigiu a Casa de Cultura Mário Quintana, e atualmente é Coordenador de Artes Cênicas de Porto Alegre. 

IMPRENSA:
GRIOT Assessoria | Cristhiane Faria – 11 9 5471 8879 | griot.assessoria@gmail.com   
IPEAFRO Comunicação | Julio Ricardo Menezes Silva | – 21 99722-5153 |redes@ipeafro.org.br 

 

Exposição coletiva em Nova York traz Abdias Nascimento e o Teatro Experimental do Negro

IPEAFRO_AN_026 Abdias Nascimento, Frontal de um Templo. Acrílico sobre tela, 102 x 153 cm. Búfalo, EUA, 1972

Exposição: Escrito no corpo. 
Curadoria: Keyna Eleison e Victor Gorgulho.
Local: Tanya Bonakdar Gallery, Nova York/EUA.
Data: 25 Junho — 30 Julho, 2021. 

A exposição coletiva “Escrito no Corpo”, realizada por Tanya Bonakdar Gallery e Fortes D’Aloia & Gabriel, na Tanya Bonakdar Gallery, em Nova Iorque, é um desdobramento da pesquisa realizada para a mostra homônima ocorrida na Carpintaria, Rio de Janeiro, em 2020.

A exposição inclui obras de Abdias Nascimento, Agrippina R. Manhattan, Antonio Tarsis, Ayrson Heráclito, Carla Santana, Davi Pontes & Wallace Ferreira, Diambe, Dona Cici, Efrain Almeida, Herbert de Paz, Marcia Falcão, Melissa de Oliveira, Moisés Patrício, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Rodrigo Cass e Sonia Gomes.

A curadoria costura as produções de jovens e consagrados artistas brasileiros com o acervo fotográfico do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado e dirigido por Abdias Nascimento (1914-2011), figura fundamental do pensamento negro no país. “Escrito no Corpo” apresenta parte do acervo fotográfico do TEN como marco e ponto de partida para a discussão de questões relacionadas à raça, identidade e corpo.

Como parte dos preparativos da exposição, Elisa Larkin Nascimento, diretora do IPEAFRO,  participou de uma conversa sobre o Teatro Experimental do Negro e Abdias do Nascimento.
Assista: https://vimeo.com/546575419 

IPEAFRO_AN_072 Abdias Nascimento, Composição n. 1. Acrílico sobre tela, 91 x 61 cm. Búfalo, EUA, 1971

Em uma época em que experiências de injustiça e racismo sistêmico se tornaram áreas cada vez mais urgentes de investigação cultural, esta exposição estabelece um diálogo entre as histórias de raça e representação em ambos os países, enfatizando as especificidades e circunstâncias que tanto as aproximam quanto as diferem do legado multidisciplinar de Abdias  Nascimento,

O legado multidisciplinar de Abdias Nascimento, que se desenrolou nos campo da arte, do ativismo social e político e do meio acadêmico, torna-se evidente na mostra também pela exibição de duas de suas pinturas — Composição n. 1 e Frontal de um templo —, datadas do início da década de 1970 e produzidas em território norte-americano.

Em 1968, quando a ditadura militar esteve em curso no País, o artista viaja aos Estados Unidos — apoiado pela Fundação Fairfield — com o objetivo de realizar um intercâmbio entre os movimentos norte-americano e brasileiro na promoção da cultura e dos direitos civis da população negra. O fechamento do Congresso e a suspensão dos direitos civis e políticos da oposição ao regime impediram o retorno do artista, que ficou exilado nos Estados Unidos. Ele atuou em universidades como a Yale e a Wesleyan, e torna-se professor titular da Universidade do Estado de Nova York em Buffalo, EUA. Aprofundou e desenvolveu sua produção artística na pintura. Para Abdias, a representação visual de signos e divindades ligadas às religiões afrobrasileiras se mostra um poderoso instrumento de comunicação não apenas com seu entorno, em um plano terrestre, como também com realidades extrafísicas, planos espirituais. Abdias retorna ao Brasil somente em 1981.

Abdias Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN) no Rio de Janeiro em 1944, com o propósito central de reivindicar espaço para pessoas negras no teatro da época. A estratégia inicial de apropriação do teatro como espaço de poder, revela-se um tanto mais tentacular e amplia-se em novas frentes de articulação. O TEN foi pioneiro em organizar, por exemplo, cursos de alfabetização, frentes trabalhistas e até concursos de beleza que enalteciam a cultura negra em uma sociedade profundamente racista, apesar de ainda pautada pelo mito da “democracia racial”.

As atividades do TEN encerraram-se em 1961, mas o pensamento de Abdias continuou a ecoar nas décadas seguintes e até hoje. Escrito no corpo toma como ponto de partida parte do acervo fotográfico do TEN para discutir questões ligadas à raça, identidade e corpo. A dimensão narrativa do corpo aparece em vários trabalhos da mostra, especialmente nas foto-performances de Antonio Tarsis, Ayrson Heráclito e Carla Santana. Através de diferentes abordagens, suas obras partilham a ideia de uma escrita de si através do ato performativo.

A fotografia de Melissa de Oliveira, por sua vez, caminha em via oposta ao arquitetar um olhar sobre o outro, entendendo a fotografia como exercício de alteridade e construção de subjetividade em retratos realizados no Morro do Dendê, um complexo de comunidades na periferia do Rio de Janeiro, onde nasceu e vive. Obras em vídeo também servem de suporte para gestos performáticos, seja na busca por seu próprio reflexo empreendida por Rodrigo Cass em Narciso no mijo, ou na documentação da ação Devolta, de Diambe, em que a artista coreografa um círculo de fogo ao redor do monumento público em homenagem à princesa Isabel, figura da família imperial brasileira responsável pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, em 1888 — 23 anos depois dos Estados Unidos. Se a atitude de Isabel foi digna de homenagem em praça pública, no Rio de Janeiro, seu papel histórico é, há muito questionado como apenas um gesto ilustrativo que não oferecia perspectiva para o modelo escravagista no país, à época. Já o filme de Davi Pontes & Wallace Ferreira reflete sobre a racialidade e flerta com a física quântica em uma performance que se instaura em um território híbrido entre a dança e a autodefesa.

A problematização em torno do imaginário colonial também aparece na obra de Herbert de Paz, em que o artista preenche a silhueta de uma figura indígena com imagens retiradas da revista História do Brasil, editada há décadas pela Biblioteca Nacional, perpetuando uma narrativa histórica forjada no seio do colonialismo. As esculturas de Paulo Nazareth reafirmam a negação da lógica colonial e imperialista.

O corpo enquanto narrativa encarnada reaparece nas pinturas de Márcia Falcão, Moisés Patrício e Panmela Castro. Ao passo em que as obras de Falcão usam o corpo feminino como significante de violência e também de liberdade nas esferas público e privada, as pinturas de Castro são retratos de pessoas próximas à artista que se dispuseram a posar à noite, em vigília comum, durante a pandemia do Covid 19. Os personagens das telas de Patrício, por sua vez, incorporam a ancestralidade do candomblé, uma das vertentes da religiosidade afro-diaspórica mais fortes no Brasil.

A relação entre a representação do corpo e a religiosidade é temática frequente também na produção de Efrain Almeida, cujas esculturas de madeira e bronze compreendem o imaginário popular do Nordeste do Brasil, onde o artista nasceu. O interesse por materiais cotidianos marca o fazer escultórico de Sonia Gomes, cuja gaiola envolta por pedaços de tecidos torcidos sugere a liberdade almejada pela frase de autoria de Agrippina R. Manhattan, em sua obra de led: Antes de caírmos, nos tornaremos o sol.

Agradecimento especial à Elisa Larkin Nascimento e ao IPEAFRO (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros).

Tanya Bonakdar Gallery
521 West 21st Street
New York, NY 10011

Texto: divulgação

76 ANOS DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (TEN)

Em 13 de outubro de 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN) foi fundado, no Rio de Janeiro, por iniciativa do professor Abdias Nascimento (1914-2011), com o apoio de amig@s e intelectuais brasileiros. A proposta de ação da companhia era valorizar socialmente a herança cultural, a identidade e a dignidade do afro-brasileiro por meio da educação, da cultura e da arte. Umas das ações mais simbólicas do grupo foi a realização de aulas para alfabetização dos participantes do grupo de teatro (Foto: acervo IPEAFRO).

Resolvi tentar meu teatro negro no Rio de Janeiro. A primeira reunião foi no café Amarelinho, na Cinelândia: Aguinaldo Camargo, o pintor Wilson Tibério, Teodorico dos Santos, José Herbel.
– Abdias Nascimento

A Seção TEN do acervo contém documentos do Teatro Experimental do Negro (TEN). Criado em 1944, o TEN foi idealizado, fundado e dirigido por Abdias Nascimento, com o objetivo de valorizar o negro e sua cultura através do teatro.

A proposta de ação do TEN englobava cidadania e conscientização racial. Ao recrutar seu elenco, o TEN tinha, como público alvo, pessoas oriundas do operariado, empregadas domésticas e pessoas sem profissão definida.

O recrutamento das pessoas era muito eclético. Queríamos gente sem qualquer tarimba, pois tarimba de negro no teatro se restringia ao rebolado ou às palhaçadas. Veio gente humilde, dos morros.
– Abdias Nascimento

O TEN realizou cursos de alfabetização para que seus integrantes pudessem dominar a leitura para poder ensaiar. Os cursos noturnos abordavam também conhecimentos gerais e culturais. As aulas aconteciam no restaurante do prédio da UNE na Praia do Flamengo e eram coordenadas por Abdias Nascimento e ministradas por ele, Ironides Rodrigues e Aguinaldo Camargo.

A um só tempo, o TEN alfabetizava seus primeiros participantes e oferecia-lhes uma nova atitude, um critério próprio que os habilitava também a ver, enxergar o espaço que ocupava o grupo afro-brasileiro no contexto nacional.
– Abdias Nascimento

Na hora de escolher uma peça para sua estreia, e verificando a ausência de textos na dramaturgia brasileira que atendessem aos seus objetivos, Abdias Nascimento recorreu à obra O imperador Jones, do renomado dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill. Em 1945, O’Neill cedeu gratuitamente ao TEN os direitos para encenar sua peça, em tradução de Ricardo Werneck.

Após meses de ensaio, o TEN estreou com O imperador Jones no dia 8 de maio de 1945, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo como protagonista o grande ator Aguinaldo Camargo.

Para além da dramaturgia como meio de conscientização do negro, o TEN desempenhou atividades de caráter social e artístico. Assim, a atuação do TEN alcançou outros palcos, revelando a militância e o engajamento feminino nas lutas contra a discriminação. A atuação das mulheres foi uma base importante de suas realizações.

Arinda Serafim, Elza de Souza, Marina Gonçalves, Ruth de Souza, Ilena Teixeira, Neusa Paladino, Maria d’Aparecida, Mercedes Baptista e Agostinha Reis estão entre as mulheres que participaram desde os primeiros momentos do TEN. Muitas delas eram empregadas domésticas, e lideravam a defesa de seus direitos. A advogada Guiomar Ferreira de Mattos atuava intensamente nessa causa.

Duas organizações de mulheres negras fizeram parte do TEN: a Associação das Empregadas Domésticas e o Conselho Nacional de Mulheres Negras.

Teve muita “madame” que se aborreceu com o TEN: nós estávamos botando minhocas nas cabeças de suas empregadas.
– Abdias Nascimento

Com sua coluna “Fala a Mulher” no jornal Quilombo, órgão informativo do TEN, Maria de Lourdes Valle do Nascimento teve presença destacada na luta das mulheres contra a discriminação. Ela idealizou também o Ballet Infantil do TEN.

O jornal Quilombo integrava uma imprensa negra que vinha ativa, sobretudo em São Paulo, de longa data. Porta-voz dos afrodescendentes, o periódico funcionava como espaço de denúncias de discriminação e apoiava organizações afro-brasileiras em todo o Brasil, publicando entrevistas com seus líderes e divulgando suas atividades.

Em outra cena, o TEN criticou o conceito de beleza nos certames como o de Miss Brasil:

“Nesses concursos jamais foi constatada a presença de uma candidata de cor. Todas elas eram brancas, dentro dos melhores e mais exigentes moldes da Vênus de Milo”, observou o colunista Doutel de Andrade em 1948.

No intuito de restituir a autoestima negada às mulheres negras, o TEN promoveu os concursos “Boneca de Pixe” e “Rainha das Mulatas”. Os critérios de julgamento incluíam o talento criativo, os dotes intelectuais e a postura ética da candidata. Mas com o tempo, ficou difícil manter o padrão de seriedade que exigia a intenção pedagógica dos concursos. À medida que os eventos cresceram, a mídia e o público passaram a desvirtuar essa intenção, e o TEN suspendeu os concursos.

Houve críticos esquerdistas fazendo confusão dos concursos com exploração meramente sexual da mulher negra. Essas pessoas não compreendiam, não podiam compreender a distância que nos separava qual uma linha eletrificada, de tais preocupações. Pois o alvo desses concursos era exatamente pôr um ponto final na tradição brasileira de só ver na mulher negra e mulata um objeto erótico, o que vem acontecendo desde os recuados tempos do Brasil-Colônia.
– Abdias Nascimento

Mais tarde Léa Garcia, Marietta Campos, Milca Cruz, Dulce Martins, Heloísa Helô, Estela Delfino, Thereza Santos e outras mulheres deram continuidade à atuação cênica e social do TEN.

Em 1955, o TEN promoveu a Semana do Negro e no mesmo ano, o concurso de artes plásticas sobre o tema do Cristo Negro. Em 1961, publicou a antologia Dramas para negros e prólogo para brancos, e em 1964 realizou o curso Introdução ao Teatro Negro. Sua atuação se destacou no cenário cultural do Rio de Janeiro até 1968, quando, após a primeira exposição da coleção Museu de Arte Negra, Abdias Nascimento permaneceu no exterior em razão da repressão política. Os livros Teatro Experimental do Negro – TestemunhosO negro revoltado, e Relações raciais no Brasil registram boa parte da atuação do TEN e seu contexto social.

A seguir, você pode conhecer de forma mais detalhada alguns aspectos dessa atuação do TEN e de sua história, documentados nos registros do acervo do Ipeafro que vimos apresentando por meio de nosso Acervo Digital.

Antecedentes do TEN – Santa Hermandad Orquídea

No final da década de 1930, criou-se no Rio de Janeiro o grupo Santa Hermandad Orquídea, formado por seis poetas e artistas: os argentinos Godofredo Iommi, Efraín Tomás Bó e Raúl Young; e os brasileiros Gerardo Mello Mourão, Napoleão Lopes Filho e Abdias Nascimento.

Em 1941, a Santa Hermandad Orquídea embarcou para o Amazonas e seguiu viagem pela América do Sul. Em sua passagem pelo Peru, Abdias e seu grupo assistiram ao espetáculo O imperador Jones, de Eugene O’Neill, no Teatro Municipal de Lima, capital daquele país. O ator branco argentino Hugo D’Evieri, do Teatro Del Pueblo de Buenos Aires, fazia o papel do protagonista principal, pintado de preto.

Para Abdias, um ator branco fazendo o protagonista negro simbolizava o racismo que excluía o negro do teatro não apenas ali em Lima, mas no teatro como um todo, símbolo e representação da própria civilização do Ocidente. Ele decidiu então criar, na volta ao seu país, um teatro negro, como forma de denunciar e lutar contra o racismo e valorizar a cultura de origem africana. Seguindo viagem, ele passou um ano em Buenos Aires, no Teatro Del Pueblo, onde aprofundou seu conhecimento e se engajou numa prática intensiva de teatro.

Antecedentes do TEN – Teatro do Sentenciado (Carandiru)

Condenado à revelia por ter resistido à discriminação racial em incidentes anteriores à sua viagem pela América do Sul, Abdias Nascimento foi preso em 1942 ao voltar para São Paulo. Cumprindo pena na Penitenciária do Carandiru, resolveu pôr em prática seu projeto de criar um teatro.

Abdias levou a sugestão ao diretor da penitenciária, Dr. Flamínio Fávero, que concordou com a ideia e o autorizou a executá-la. Criou-se, então, o Teatro do Sentenciado, um projeto de vanguarda para a época, onde os presos criavam e encenavam seus próprios textos.

Atuação Teatral do TEN

O TEN marcou de forma indelével a história do teatro brasileiro ao promover a valorização da identidade negra na dimensão cultural, histórica, étnica e artística. O estudo e a reelaboração criativa dos valores da cultura de matriz africana no Brasil moldaram a atuação artística do TEN, que era sempre acompanhada do ativismo cívico pela democracia e os direitos humanos.

“Na rota dos propósitos revolucionários do Teatro Experimental do Negro vamos encontrar a introdução do herói negro com seu formidável potencial trágico e lírico nos palcos brasileiros e na literatura dramática do país.”
– Abdias Nascimento

Além de encenar peças de teatro com uma qualidade plástica e dramática muito elogiada pela crítica da época, o TEN incentivou a criação de uma dramaturgia de autoria negra e sobre temas da vida do povo de matriz africana.

Peças encenadas

O imperador Jones, de Eugene O’Neill
Todos os filhos de Deus têm asas, de Eugene O’Neill
Festival do II aniversário do TEN
O moleque sonhador, de Eugene O’Neill
Recital Castro Alves
Calígula, de Albert Camus
O filho pródigo, de Lúcio Cardoso
Ato Poético Cruz e Souza
Aruanda, de Joaquim Ribeiro
Filhos de santo, de José de Moraes Pinho
Rapsódia negra, de Abdias Nascimento
Onde está marcada a cruz, de Eugene O’Neill
Sortilégio (mistério negro), de Abdias Nascimento
O sapo e a estrela, de Hermilo Borba Filho

Atuação política do TEN

Em 1945, o TEN organizou a Convenção Nacional do Negro Brasileiro, que teve sua primeira reunião em São Paulo e a segunda em 1946 no Rio de Janeiro.

A Convenção Nacional do Negro Brasileiro lançou, em 1945, o Manifesto à Nação Brasileira, reivindicando que a nova Carta Magna explicitasse a origem étnica do povo brasileiro, definisse o racismo como crime de lesa-pátria e punisse a sua prática como crime.O Manifesto também demandou políticas positivas de igualdade racial, como bolsas de estudos e incentivos fiscais.

Vários partidos subscreveram o Manifesto, inclusive o PTB, a UDN, o PSD e o PCB de Luiz Carlos Prestes. Mas quando o senador Hamilton Nogueira apresentou o projeto, a Assembleia Nacional Constituinte de 1946 o rejeitou sob a alegação de inexistirem provas de discriminação racial no país. O TEN passou, então, a denunciar vários casos de discriminação, inclusive os da antropóloga Irene Diggs e da coreógrafa Katherine Dunham. A divulgação desses casos ajudou a criar as condições para a posterior promulgação de uma legislação fraca e ineficaz, conhecida como Lei Afonso Arinos.

Ciente da necessidade de ter parlamentares negros para defenderem no Congresso propostas que beneficiassem a população negra, o TEN incentivou e apoiou o lançamento de candidatos negros. Seu jornal Quilombo abriu espaço para candidatos negros de todos os partidos.

A atuação política do TEN manteve-se ao longo do tempo. Em 1966, por exemplo, ele lançou uma Declaração de Princípios em que se posicionou contra o colonialismo, reivindicando o mesmo posicionamento do governo brasileiro.

O 1º Congresso do Negro Brasileiro (1950)

O 1º Congresso do Negro Brasileiro se definiu como um evento de estudo e reflexão e, ainda, um acontecimento político de cunho popular, em contraste a outros certames como os Congressos Afro-Brasileiros de Recife (1934) e Salvador (1937), que tratavam o negro como um simples objeto de pesquisa.

Os intelectuais negros reunidos na Conferência preparatória ao 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1949, insistiam no princípio de políticas de igualdade racial que antes propuseram à Assembleia Constituinte de 1946. Nas palavras do escritor Fernando Góes:

“É tempo de todos olharem o negro como um ser humano, e não como simples curiosidade ou assunto para eruditas divagações científicas. Que se cuide da ciência, não é só louvável, como imprescindível. Mas que se assista ao desmoronamento e à degradação de uma raça, de braços cruzados, me parece um crime, e um crime tanto maior quando se sabe o que representou para a formação e o desenvolvimento econômico do nosso País.”

Os anais do 1º Congresso do Negro Brasileiro encontram-se publicados, parcialmente, no livro O negro revoltado, que Abdias Nascimento só conseguiu publicar em 1968.

“O Teatro é uma Arma”: notas introdutórias sobre a dimensão política do Teatro Experimental do Negro, por João Gabriel Mendes da Cunha

RESUMO

O presente trabalho propõe refletir sobre a dimensão político-artística do Teatro Experimental do Negro – TEN, companhia de teatro fundada em 1944 por Abdias do Nascimento (1914 – 2011). Abdias do Nascimento possuía um grande conhecimento em diversas áreas do saber. Foi teatrólogo, jornalista, economista, professor universitário, ator, pintor, escritor, político e, acima de tudo, ativista pelos direitos humanos e civis da população negra. Participou das principais organizações do movimento negro: Frente Negra Brasileira (1931), Movimento Negro Unificado (1978), fundou o Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros – IPEAFRO (1981). Também foi Deputado Federal nos anos de 1983 a 1987 e senador da República nos anos de 1997 a 1999. Em decorrência de uma vida dedicada à militância a favor dos direitos humanos e civis da população afro-brasileira, Abdias do Nascimento foi indicado ao prêmio Nobel da Paz em 2009. Podemos concluir, então, que Abdias do Nascimento foi uma das maiores forças ativas que já atravessaram a história do Brasil.

Leia o jornal: João-Gabriel-TCC

75 anos da estreia do primeiro espetáculo do Teatro Experimental do Negro

Em 8 de maio de 1945, o Teatro Experimental do Negro (TEN) fazia história. Pela primeira vez, negros e negras pisaram no teatro como público e protagonistas de um espetáculo. O TEN marcou de forma indelével a história do teatro brasileiro ao promover a valorização da identidade negra na dimensão cultural, histórica, étnica e artística. O estudo e a reelaboração criativa dos valores da cultura de matriz africana no Brasil moldaram a atuação artística do TEN, que era sempre acompanhada do ativismo cívico pela democracia e os direitos humanos.

“Na rota dos propósitos revolucionários do Teatro Experimental do Negro vamos encontrar a introdução do herói negro com seu formidável potencial trágico e lírico nos palcos brasileiros e na literatura dramática do país.”
– Abdias Nascimento

Além de encenar peças de teatro com uma qualidade plástica e dramática muito elogiada pela crítica da época, o TEN incentivou a criação de uma dramaturgia de autoria negra e sobre temas da vida do povo de matriz africana.

Peças encenadas

O imperador Jones, de Eugene O’Neill
Todos os filhos de Deus têm asas, de Eugene O’Neill
Festival do II aniversário do TEN
O moleque sonhador, de Eugene O’Neill
Recital Castro Alves
Calígula, de Albert Camus
O filho pródigo, de Lúcio Cardoso
Ato Poético Cruz e Souza
Aruanda, de Joaquim Ribeiro
Filhos de santo, de José de Moraes Pinho
Rapsódia negra, de Abdias Nascimento
Onde está marcada a cruz, de Eugene O’Neill
Sortilégio (mistério negro), de Abdias Nascimento
O sapo e a estrela, de Hermilo Borba Filho

Atuação política do TEN

Em 1945, o TEN organizou a Convenção Nacional do Negro Brasileiro, que teve sua primeira reunião em São Paulo e a segunda em 1946 no Rio de Janeiro.

A Convenção Nacional do Negro Brasileiro lançou, em 1945, o Manifesto à Nação Brasileira, reivindicando que a nova Carta Magna explicitasse a origem étnica do povo brasileiro, definisse o racismo como crime de lesa-pátria e punisse a sua prática como crime.O Manifesto também demandou políticas positivas de igualdade racial, como bolsas de estudos e incentivos fiscais.

Vários partidos subscreveram o Manifesto, inclusive o PTB, a UDN, o PSD e o PCB de Luiz Carlos Prestes. Mas quando o senador Hamilton Nogueira apresentou o projeto, a Assembleia Nacional Constituinte de 1946 o rejeitou sob a alegação de inexistirem provas de discriminação racial no país. O TEN passou, então, a denunciar vários casos de discriminação, inclusive os da antropóloga Irene Diggs e da coreógrafa Katherine Dunham. A divulgação desses casos ajudou a criar as condições para a posterior promulgação de uma legislação fraca e ineficaz, conhecida como Lei Afonso Arinos.

Ciente da necessidade de ter parlamentares negros para defenderem no Congresso propostas que beneficiassem a população negra, o TEN incentivou e apoiou o lançamento de candidatos negros. Seu jornal Quilombo abriu espaço para candidatos negros de todos os partidos.

A atuação política do TEN manteve-se ao longo do tempo. Em 1966, por exemplo, ele lançou uma Declaração de Princípios em que se posicionou contra o colonialismo, reivindicando o mesmo posicionamento do governo brasileiro.

O 1º Congresso do Negro Brasileiro (1950)

O 1º Congresso do Negro Brasileiro se definiu como um evento de estudo e reflexão e, ainda, um acontecimento político de cunho popular, em contraste a outros certames como os Congressos Afro-Brasileiros de Recife (1934) e Salvador (1937), que tratavam o negro como um simples objeto de pesquisa.

Os intelectuais negros reunidos na Conferência preparatória ao 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1949, insistiam no princípio de políticas de igualdade racial que antes propuseram à Assembleia Constituinte de 1946. Nas palavras do escritor Fernando Góes:

“É tempo de todos olharem o negro como um ser humano, e não como simples curiosidade ou assunto para eruditas divagações científicas. Que se cuide da ciência, não é só louvável, como imprescindível. Mas que se assista ao desmoronamento e à degradação de uma raça, de braços cruzados, me parece um crime, e um crime tanto maior quando se sabe o que representou para a formação e o desenvolvimento econômico do nosso País.”

Os anais do 1º Congresso do Negro Brasileiro encontram-se publicados, parcialmente, no livro O negro revoltado, que Abdias Nascimento só conseguiu publicar em 1968.

RUTH DE SOUZA E AS MULHERES NEGRAS NO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO

Ruth de Souza com Aguinaldo Camargo e José Maria Monteiro (fundo) em “O Filho Pródigo”, de Lúcio Cardoso (Teatro Ginástico, Rio de Janeiro, 1947)

No último sábado, dia 12 de maio, a diretora do IPEAFRO, Elisa Larkin Nascimento, participou do jantar em homenagem à atriz Ruth de Souza, no restaurante La Fiorentina, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro. Amigos e colegas celebraram a vida desta grande dama do teatro brasileiro no seu aniversário. 
 
Reafirmando nosso carinho pela Ruth, e nosso profundo respeito à sua destacada carreira que tanto honra a cultura brasileira, registramos a participação das mulheres negras na estreia do Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1945, com a peça O imperador Jones, no Theatro Municipal. O papel da Velha Nativa, única personagem feminina do texto, foi desempenhado por Arinda Serafim. Ruth de Souza participou do Recitativo Coral que compôs o espetáculo junto com a peça de Eugene O’Neill. Do Recitativo Coral participaram outras mulheres negras, como Ilena Teixeira, que declamou a poesia “Menina do Morro”, de Aladir Custódio. Ruth fez o papel da Velha Nativa em apresentações posteriores de O imperador Jones.
 
Arinda Serafim era empregada doméstica quando atendeu o chamado do recém-criado Teatro Experimental do Negro (TEN). Ela teve papel de liderança na organização das mulheres negras dentro do TEN, e nas várias iniciativas do grupo em defesa dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas. Mais tarde, Arinda Serafim trabalhou como atriz em filmes do saudoso diretor Nélson Pereira dos Santos. Infelizmente, há poucos registros documentais e iconográficos dessa mulher guerreira que atuou na estreia do TEN ao lado de outras mulheres negras. Elas pisaram, junto com nossa diva Ruth de Souza, o palco do Theatro Municipal na estreia do TEN em 1945. Marina Gonçalves e Guiomar Ferreira de Mattos são outras duas mulheres negras com destacada presença no Teatro Experimental do Negro.
 
Vale observar que a estreia do TEN foi realizada 11 anos antes da peça Orfeu da Conceição, cujo elenco foi organizado pelo TEN e que frequentemente se cita, de forma equivocada, como se fosse a primeira ocasião em que um elenco negro pisou no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 

Teatro Experimental do Negro: Testemunhos

O Teatro Experimental do Negro nasceu em 13 de outubro de 1944, com o objetivo de encenar e ensejar a criação de peças dramáticas voltadas à cultura e aos temas emergentes do povo negro. O TEN tinha a missão de trabalhar pela inserção do negro na cena brasileira com sua cultura e personalidade. O projeto suscitou polêmica e muitas dúvidas quanto às possibilidades reais de sua realização. Mas o TEN surpreendeu os meios intelectuais e artísticos ao montar belos espetáculos com alto padrão de qualidade e ensejar a oportunidade de ricos debates sobre a questão racial.

Essa história emerge viva, nas vozes de amigos e adversários, no livro Teatro Experimental do Negro – Testemunhos, onde Abdias Nascimento reuniu ensaios e crônicas de críticos e jornalistas, bem como imagens e outros textos sobre a trajetória do TEN.

O projeto era liderado e protagonizado por negros, o que não significava excluir ninguém: as páginas deste livro documentam a participação de eminentes artistas e intelectuais brancos solidários e colaboradores do TEN.O livro foi editado em 1966, em homenagem ao vigésimo aniversário da primeira apresentação pública do TEN (8 de meio de 1945) e em memória de Arinda Serafim e Aguinaldo de Oliveira Camargo, atores negros que desempenharam os papéis principais da estreia.

Nada melhor que ler este livro, desde o texto de orelha até o colofon, para se conhecer o mundo do TEN e o testemunho que ele deixou.

Boa leitura!

Performance e lançamento de livro marcam presença do Ipeafro no 7º Fórum Negro de Arte e Cultura, em Salvador

Montagem de “Sortilégio” pela Cia. Teatral Abdias Nascimento, 2014. Direção: Ângelo Flávio Zuhalê. Foto: Murilo Oliveira

O Ipeafro e o 7º Fórum Negro de Arte e Cultura celebram o clássico do teatro negro brasileiro com o lançamento do livro “Sortilégio”, de Abdias Nascimento, e performance do premiado artista baiano Ângelo Flávio. 

Na próxima sexta-feira, 1º de dezembro, às 19h, no Teatro Experimental, localizado na Escola de Dança da UFBA – Universidade Federal da Bahia, Campus Ondina, o público soteropolitano poderá conferir uma performance inédita do premiado artista Ângelo Flávio para celebrar, dentro da programação do 7º Fórum Negro de Arte e Cultura da UFBA, o lançamento da edição atualizada da peça teatral Sortilégio, escrita por Abdias Nascimento (1914-2011). O evento é realizado em parceria com o IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, fundado por Abdias Nascimento e Elisa Larkin Nascimento em 1981.

Abdias Nascimento já foi descrito como o mais completo intelectual e homem de cultura do mundo africano do século XX. Poeta, escritor, dramaturgo, artista visual e ativista pan-africanista, ele fundou o Teatro Experimental do Negro e o projeto Museu de Arte Negra. Suas pinturas, largamente exibidas dentro e fora do Brasil, exploram o legado cultural africano no contexto do combate ao racismo. Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York, no campo político ele atuou como deputado federal, senador da República e secretário do governo do Estado do Rio de Janeiro.

Após a performance, haverá um bate-papo com Ângelo Flávio, ator, diretor, dramaturgo, roteirista, apresentador, iluminador e repórter, artista polivalente, mestrando em Poéticas e Processos da Encenação pelo PPGAC/ UFBA e bacharel em Artes Cênicas pela Escola de Teatro / UFBA que recebe Elisa Larkin Nascimento, escritora e diretora do Ipeafro, doutora em Psicologia pela USP, e  Jessé Oliveira, fundador do Grupo Teatral Caixa-Preta, gestor cultural, encenador e doutorando em Artes Cênicas pelo PPGAC – UFRGS para uma conversa sobre a obra.

O lançamento visa propiciar que a obra de Abdias do Nascimento, atinja novos públicos, em especial, mais jovens, que poderão se apropriar do conceito inovador e visionário do grande intelectual, que nos deixa um legado de militância, ações e uma ampla produção artística, nas mais diversas linguagens. A performance e lançamento do livro tem o apoio da Katuka Africanidades e da Editora Perspectiva.

SERVIÇO

O quê: Performance com Ângelo Flávio, seguido de bate-papo com o artista, Elisa Larkin Nascimento e Jessé Oliveira + lançamento do livro SORTILÉGIO;
Quando: 1º/12/2023, às 19h.
Onde: Teatro Experimental- Escola de Dança da UFBA- Campus Ondina
Ingresso:  entrada franca, mediante a lotação do espaço

SORTILÉGIO
Incrível a atualidade desse clássico do teatro negro brasileiro. A cada vez que nos deparamos com um texto de Abdias Nascimento, salta aos olhos o frescor, a pertinência e a contundência de sua prosa ou poesia, de seus diálogos, de sua força, de sua capacidade como orador. Sortilégio escancara a brutalidade do racismo no Brasil, denuncia a farsa da democracia racial e ainda ilumina e se abre para uma poderosa cultura brasileira de matriz africana. Nesta edição do texto definitivo da peça, musicado por Nei Lopes, Elisa Larkin Nascimento escreve sobre as encruzilhadas e os diálogos que a obra provoca entre o masculino e feminino, o moderno e o contemporâneo. O gestor cultural Jessé Oliveira, diretor fundador do coletivo de teatro negro Caixa Preta, de Porto Alegre, traz à cena os realizadores atuais de teatro negro. Entrevistas com Léa Garcia, atriz protagonista da montagem de estreia em 1957, e Ângelo Flávio Zuhalê, diretor da montagem de 2014, centenário de Abdias Nascimento, situam o texto nas situações concretas de montagem: Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 1957, e Teatro Vila Velha, Salvador, 2014.

 

FICHA TÉCNICA
Autor: Abdias Nascimento
Apresentação e Prefácio: Elisa Larkin Nascimento
Participação: Léa Garcia, Jessé Oliveira e Ângelo Flávio Zuhalê
Assunto: Teatro / Dramaturgia
Coleção: Paralelos
Editora: Perspectiva
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 21 cm
160 páginas
ISBN 9786555051087
E-book: 9786555051094
Lançamento: 27/05/2022

7º FNAC
De 30 de novembro a 02 de dezembro de 2023, a cidade de Salvador sediará a 7ª edição do Fórum Negro de Arte e Cultura (FNAC) na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e no Teatro da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus I (Cabula), sob o tema “Sankofar: Artes, Memórias, Militâncias Negras e outras Poéticas”, este evento de caráter internacional celebrará a cultura negro-brasileira e a luta contra o racismo.  O FNAC 2023 reúne professores, pesquisadores, mestres e mestras da tradição, artistas, estudantes e membros da sociedade civil, todos engajados na luta antirracista dentro e fora das instituições acadêmicas. A programação deste ano é especial e incluirá uma série de atividades que celebram os sete anos de história do FNAC.

Mais informações acesse:
Site: https://www.even3.com.br/7fnac/
Contato: forumnegroarteecultura@gmail.com
Instagram: https://instagram.com/forumnegro?igshid=OGQ5ZDc2ODk2ZA==

 

IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
O Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) é uma associação sem fins lucrativos com sede no Rio de Janeiro que exerce sua ação em quatro áreas: ensino, pesquisa, cultura e documentação. O Ipeafro cuida e faz a gestão do legado e do acervo documental, iconográfico e artístico de Abdias Nascimento e das organizações que ele criou, como o Teatro Experimental do Negro e o projeto Museu de Arte Negra. O acervo possibilita múltiplas expressões nos mais variados contextos. Esse trabalho dá sustento às atividades do Ipeafro na área do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira através de exposições, fóruns, cursos, performances e publicações. O conteúdo do acervo também é disponibilizado e difundido por meio de site e outros canais do Ipeafro na internet.

Site: https://ipeafro.org.br/
Contato: redes@ipeafro.org.br
Instagram: https://www.instagram.com/ipeafro/

Ipeafro lança na Bahia dois livros fundamentais para se pensar a contribuição negra para o Brasil

No dia 30 de outubro, às 17h30, o Centro de Estudos Afro-Ocidentais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), localizado em Salvador, será palco do lançamento de dois livros fundamentais para se pensar a contribuição negra na construção do Brasil: “Adinkra – Sabedoria em Símbolos Africanos” (ed. Cobogó em co-edição com Ipeafro), organizado por Elisa Larkin Nascimento e Luiz Carlos Gá; e “Abdias Nascimento, a Luta na Política” (ed. Perspectiva em co-edição com Ipeafro), escrito por Elisa Larkin Nascimento.

O evento de lançamento será na livraria Katuka e contará com a participação do artista Alberto Pitta e do advogado e professor Samuel Vida, que dialogarão com a autora Elisa Larkin Nascimento. A mediação da mesa será conduzida pela professora Eliane Boa Morte, enquanto a abertura ficará a cargo do escritor e artista Milsoul Santos – que fará uma interpretação do poema “Padê de Exu Libertador”, escrito por Abdias Nascimento. 

Os Adinkra, sistema de escrita dos povos do grupo linguístico Acã da África Ocidental, desempenham um papel fundamental na preservação e transmissão dos aspectos da história e filosofia africanas. Por outro lado, o livro “Abdias Nascimento, a Luta na Política” oferece uma visão profunda e memorável do legado político de Abdias Nascimento, desde sua volta do exílio nos anos 1980.  

SERVIÇO
Data: 30.10.2023
Horário: 17h30
Local: Centro de Estudos Afro-Orientais (UFBA) | Praça General Inocêncio Galvão, 42 | Dois de Julho – Salvador (BA)
Livraria: Katuka 

SINOPSES

ABDIAS NASCIMENTO, A LUTA NA POLÍTICA

Abdias Nascimento foi uma das mais importantes e brilhantes lideranças do Brasil, dedicando-se intensamente ao enfrentamento do racismo e à promoção do legado cultural afro-brasileiro. Escritor, artista plástico, dramaturgo, deixou um legado cultural incontornável através do TEN, Teatro Experimental do Negro, das pinturas que realçam sua ligação com a cultura africana e dos livros que denunciam o racismo e a violência das relações étnico raciais no Brasil. Na década de 1980, ele se dedicou à política institucional do Congresso Nacional, onde acreditava ser necessário pôr em pauta as questões raciais e implementar políticas públicas de reparação. Muito do debate atual e das políticas públicas inauguradas no país, nós devemos à sua atuação parlamentar, que é o objeto deste livro.

FICHA TÉCNICA

Autora: Elisa Larkin Nascimento
Coleção: Debates}
Assunto: Política
Formato: Brochura
Dimensões: 11,5 x 20,5 cm
240 páginas
ISBN 9786555050806
E-book 9786555050813
Lançamento: 2021

ADINKRA – SABEDORIA EM SÍMBOLOS AFRICANOS

Adinkra – Sabedoria em símbolos africanos reúne os ideogramas da escrita da tradição dos povos do grupo linguístico acã, da África Ocidental. Em um universo filosófico e estético baseado no corpo humano, figuras de animais, plantas, astros e outros objetos, os desenhos incorporam, preservam e transmitem aspectos da história, filosofia, valores e normas socioculturais dessa rica cultura africana. O livro apresenta mais de 80 símbolos acompanhados por significados, provérbios e simbologia originais. Mais do que uma homenagem a essa ancestralidade, a obra ajuda a fundamentar uma nova articulação da identidade brasileira. Como celebra o escritor, compositor e cantor Nei Lopes, em texto para o volume, “E assim como o kra é muito mais que a “alma”, um adinkra é muito mais que um símbolo gráfico. Então, através deste belo acervo, reunido e redesenhado por Elisa Larkin e Luiz Carlos Gá, em momento tão oportuno, a África parece vir dizer aos que a menosprezam e humilham, depois de tudo o que dela já fruíram, este provérbio acã: ‘Se a floresta te abriga, não a chame de selva’”. A edição conta ainda com o prefácio do professor, historiador e cientista político ganês Anani Dzidzienyo e um ensaio da pesquisadora e artista plástica Renata Felinto sobre os adinkra e os paradigmas não europeus de registro das historicidades.

FICHA TÉCNICA

Organizadores: Elisa Larkin Nascimento e Luiz Carlos Gá
Coleção: Coleção Encruzilhada
Coordenador da coleção: José Fernando Peixoto de Azevedo
Idioma: Português
Número de páginas: 160
ISBN: 978-65-5691-076-5
Capa: Thiago Lacaz
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21 cm
Ano de publicação: 2022

O peso simbólico do 14 de março | Carolina, Abdias e Marielle: Vida, Ancestralidade e Continuação

Imagem criada por Luiz Carlos Gá em 2019, por ocasião do evento “Carolina, Abdias e Marielle: Vida, Ancestralidade e Continuação”, realizado em 14 de março daquele ano no Centro de Artes da Maré, na favela Nova Holanda, no Rio. Gá fez sua passagem no último dia 26 de fevereiro e do Orum nos inspira a seguir adiante. Valeu, Gá!

Hoje, 14 de março de 2023, é dia de reverenciar três ancestrais. Neste dia nasceram em 1914 Carolina Maria de Jesus, escritora, e Abdias Nascimento, professor, artista plástico e político brasileiro oficialmente indicado ao Nobel da Paz. Morreram a vereadora Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes, em 2018, em crime ainda não desvendado. Quem mandou matar Marielle?

Por lei estadual no Rio de Janeiro, o dia 14 de março é Dia do Ativista pelo aniversário de Abdias, e Dia Marielle Franco de Luta contra o Genocídio das Mulheres Negras. Essas personalidades dedicaram a vida a resistir ao racismo brasileiro, o denunciaram ao mundo e deixaram um legado para as futuras gerações levarem adiante esta luta. 

Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977)

Nasceu em Sacramento (MG) em 14 de março de 1914. Estabeleceu-se na favela do Canindé, em São Paulo. Teve três filhos. Cuidou deles sozinha. A fome fazia parte do cotidiano de sua família. Catando papéis tirava o mínimo para o sustento. Dos papéis também vinham os pedaços de folha onde escrevia suas memórias, textos, poesias e sonhos. Um dia, o jornalista Audálio Dantas encontrou-se com Carolina e publicou sua história no jornal Folha de S. Paulo. Dois anos mais tarde, em 1960, seus textos foram reunidos em Quarto do Despejo, livro que virou best-seller. Vendeu mais de quatro milhões de livros no exterior, 3 milhões no Brasil. Morreu em 1977.

Marielle Franco (1979 – 2018)

Marielle Franco foi uma política brasileira. Formada em Sociologia (pela PUC-Rio) e com Mestrado em Administração Pública (pela UFF). Eleita Vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) no ano de 2016, com 46.502 votos. Ao longo do período em que atuou como vereadora apresentou 16 projetos de lei, especialmente pensados em políticas públicas para negros, mulheres e LGBTI. Mãe, mulher negra de favela, mãe, lésbica. Foi assassinada ao lado de seu motorista Anderson Gomes em um 14 de março, em crime ainda não desvendado. 

Abdias Nascimento (1914 – 2011)

Poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário, pan-africanista e parlamentar brasileiro. Com uma longa trajetória trilhada no ativismo e na luta contra o racismo, foi indicado ao Nobel da Paz. Nasceu em Franca (SP) em 1914 e morreu no Rio em 2011, aos 97 anos. Funtou o Teatro Experimental do Negro, o jornal Quilombo e o Museu de Arte Negra. Foi perseguido politicamente e preso diversas vezes em sua vida por resistir ao racismo. Viveu 13 anos em exílio durante a ditadura militar no Brasil. Voltou ao País e foi o primeiro parlamentar negro da Câmara dos Deputados. Foi Senador da |República. Autor de vários livros, fundou o Ipeafro.